A chefe do governo alemão, Angela Merkel, afirmou nesta quarta-feira ante uma comissão de investigação parlamentar que soube pela primeira vez do escândalo dos motores adulterados da Volkswagen pela imprensa, em setembro de 2015.

Merkel disse que soube da fraude em 19 de setembro de 2015, quando os meios de comunicação do mundo inteiro repercurtiram as revelações feitas nos Estados Unidos.

O chamado Dieselgate, cujas consequências empresariais, econômicas e criminais ainda não foram completamente desenhadas para a Volkswagen, foi comunicado a Merkel por seu ministro dos Transportes, Alexander Dobrindt, segundo a chanceler.

Merkel absolveu seu ministro e expressou seu apoio à investigação interna no ministério, ante um dos maiores escândalos já sofridos pela indústria alemã.

O grupo Volkswagen, que reúne 12 marcas (incluindo Audi, Porsche e Skoda) admitiu em setembro de 2015 que havia equipado 11 milhões de veículos a diesel em todo o mundo (600.000 deles nos Estados Unidos) com um programa informático que camuflava o nível real das emissões de gases poluentes para fazê-los parecer menos agressivos ao meio ambiente do que realmente eram.

Este foi um golpe financeiro e de imagem devastador para a companhia.

Após a revelação do caso, Merkel tentou ganhar tempo, e chegou a assegurar que o escândalo “dramático” não teria um impacto de longo prazo sobre a reputação da indústria alemã.

– Sem demonizar –

A chanceler também pediu à opinião pública “para não demonizar” todo o setor automotivo, já que isso iria “colocar em risco milhares de empregos na Europa”.

Os parlamentares querem esclarecer o que os membros do governo sabiam a respeito deste escândalo, antes de ser tornado público.

A comissão, criada por iniciativa da oposição (Verdes e esquerda radical Die Linke), mas também composta por deputados da coalizão governista de conservadores (CDU-CSU) e social-democratas (SPD), é responsável por revisar a ação a partir de 2007 do governo alemão para lidar com as emissões de poluentes acima do limite pelos fabricantes automotores.

“Há cada vez mais evidências que sugerem que a Chancelaria (governo) e a chanceler Merkel sabiam da questão das emissões de de óxidos de nitrogênio bem antes de 2015”, de acordo com vice-presidente da comissão de inquérito, Oliver Krischer (Verdes).

“Também queremos esclarecer o papel desempenhado pela Chancelaria na legislação europeia sobre as emissões de veículos”, havia dito em dezembro.

“Esperamos da chanceler explicações que nem o ministro responsável (pelos Transportes, Alexandre) Dobrindt, nem o resto do governo deu até agora”, acrescentou.

Os deputados já interrogaram em dezembro o ex-ministro da Economia, agora nas Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, que afirmou desconhecer o caso antes da divulgação pública do escândalo.

– Segundo comparecimento –

Para a chanceler este é o segundo comparecimento perante uma comissão parlamentar de inquérito dentro de algumas semanas.

Em fevereiro, foi interrogada por um outro caso, o da cooperação entre a inteligência alemã e os serviços americanos.

A linha de defesa da Volkswagen não mudou há mais de um ano: segundo a companhia, o conselho só foi informado “no final de agosto, início de setembro de 2015”, deste gigantesco esquema fraudulento.

O ex-presidente da Volkswagen, Martin Winterkorn, interrogado em 19 de janeiro pela mesma comissão, rejeitou as alegações de ocultação, e alegou desconhecer o caso antes do escândalo.