O mundo corporativo está sendo convocado à promoção da diversidade e minimização do déficit histórico de direitos aos grupos minorizados e minoritários. Esse papel social vem muito atrelado aos processos de atração e desenvolvimento profissional desses indivíduos. E uma das dúvidas pertinentes é: igualdade de oportunidades e meritocracia cabem na mesma cultura?

É preciso reconhecer a parcialidade na meritocracia. Afinal, nem todos os brasileiros têm acesso ou preparo educacional para concorrer por reconhecimento organizacional sob o viés dos melhores cargos, salários, comissões, prêmios e benefícios. Ou seja, as pessoas não partem da mesma linha de largada.

Pesquisa da consultoria PageGroup e da Fundação Dom Cabral, realizada com 149 CEO’s de corporações brasileiras de Finanças, Saúde e Tecnologia, no 2º trimestre de 2021, aponta que 90% desse público são homens e brancos. O baixo índice de mulheres, negros, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência nas empresas, sobretudo em posições de liderança, requer movimentos por mais equidade. Políticas públicas são importantes, mas as organizações devem ser também protagonistas da mudança frente aos privilégios e preconceitos.

De alguns anos para cá estão mais evidentes as práticas Ambientais, Sociais e de Governança (ESG) de grandes companhias reduzindo desigualdades e promovendo sustentabilidade para o negócio e o país. O exemplo mais recente de reconhecimento do mercado é o novo ranking na Bolsa de Valores (B3), em parceria com o Great Place To Work (GTPW), que destaca empresas de capital aberto com melhores condições para se trabalhar no Brasil como fator de confiança para investidores. A experiência mais humanizada nas organizações geralmente se multiplica para o seu entorno, com clientes e a comunidade.

Contudo, há grande a preocupação com a qualidade da educação, base para a igualdade de oportunidades e maior justiça na meritocracia. Levar a sério a Lei nº 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a distribuição de recursos e o suporte aos professores torna menos dissonante o que é oferecido nas escolas públicas e particulares. É preciso um olhar atento aos conteúdos e métodos de ensino no pós-pandemia, a partir do que os estudantes precisarão ou pretendem ser no futuro.

Muitas companhias propiciam formações e treinamentos para que públicos vulneráveis se desenvolvam e alcancem sucesso profissional e na vida. Elas criam universidades corporativas e/ou firmam parcerias com instituições qualificadas, geralmente via leis de incentivo fiscal, para aprimorar habilidades e competências dos colaboradores. Pessoas de grupos supostamente minoritários ou excluídos têm chances mais reais de ascensão. Aqui vemos na prática a mobilização pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustável (ODS) 4 do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU): assegurar educação inclusiva e equitativa de qualidade para todos.

Vários fatores se combinam nesse movimento de transformação social. E o que mais chama a atenção no ambiente corporativo atualmente é a criação das áreas ou comitês de diversidade, que procuram eliminar gaps e levar conscientização sobre acessibilidade, combate à discriminação, respeito às diferenças e à inclusão para toda a empresa.

Uma cultura organizacional propositiva tem diversas representatividades compartilhando vivências, visões de mundo e mais aptas à igualdade de oportunidades. Assim, os processos de inovação se tornam mais valorosos e a meritocracia baseada em comprometimento e qualidade de entregas mais justa e com impacto social.

*Esse artigo foi elaborado em parceria com Isabel Gomes, Coordenadora de Gente Cultura da Wiz.