O apetite do empresário Pierre Schurmann por aquisições parece não ter limite. Ou melhor, tem sim. Até 2025, ele pretende assumir o controle de 85 empresas que atuam no desenvolvimento de softwares. As cinco primeiras foram a leadlovers (voltada para automação de marketing digital), a Effecti (plataforma de licitações), a Ipê Digital (softwares e serviços para óticas), a Datahub (big data) e a Onclick (gestão empresarial, integração e e-commerce). A elas, soma-se agora a Mercos, startup de tecnologia sediada em Joinville (SC) e proprietária de um software de automação de força de vendas para indústrias, distribuidoras e representantes comerciais. Com 6,5 mil clientes, a Mercos movimenta anualmente R$ 40 bilhões em seu sistema — e cresceu 40% de junho de 2020 até junho deste ano.

Ao incorporá-la, a nuvini dá um passo importante em seu objetivo de ser o maior grupo de Software as a Service (SaaS) do Brasil. “Nós buscamos líderes de mercado que gerem sinergia com as outras empresas do grupo. A Mercos cumpre esses requisitos”, afirmou Pierre Schurmann. O empresário, que faz parte da famosa família de velejadores, foi um dos pioneiros da internet brasileira. Em 1997, participou da criação do site de busca Zeek!. Ao vendê-lo, um ano depois, para a americana StarMedia, assumiu a diretoria de novos negócios da empresa. De lá para cá, virou um empreendedor serial. Participou da fundação de startups como Ideia.com, Conectis Experience Marketing e Bossa Nova Investimentos, da qual ainda é acionista.

EUA E ÁSIA Com a nuvini, que este ano prevê faturar R$ 330 milhões, a aposta é alta: R$ 4 bilhões de receita e R$ 1 bilhão de Ebtida em 2025. O otimismo é baseado em pesquisas. “Tanto empresas que faturam mais de R$ 100 milhões quanto o dono da banca de jornal passaram a utilizar softwares como diferenciais competitivos”, afirmou Schurmann. “São ferramentas que permitem ganhos de eficiência e agilidade em todos os aspectos do negócio, da geração de pedidos ao marketing.” Segundo ele, essa onda, que já é muito forte nos Estados Unidos e na Ásia, ainda está só começando no Brasil. “Será muito interessante participar do ciclo de crescimento da utilização do SasS como vemos ocorrer lá fora.”

Para liderar esse mercado, a nuvini segue os passos do grupo canadense Constellation Software, que já adquiriu mais de 500 empresas em 100 países. “Esse modelo incentiva que os fundadores fiquem no negócio e participem do crescimento de suas startups, sem ter que se preocupar com o backoffice, finanças e outras operações administrativas”, disse Schurmann. “Procuramos startups com altas taxas de crescimento e que sejam rentáveis. O que mais nos interessa, nesse momento, é que ela tenha um time muito bom, para que continue crescendo e perfomando bem na linha do tempo.” Quanto aos segmentos que mais o atraem como investidor, ele enxerga oportunidades em empresas que se dedicam a ferramentas de produtividade, ao agronegócio, legaltechs — áreas com alto potencial de transformação por meio da digitalização.

Especificamente na Mercos, o que chamou a atenção de Schurmann não foi apenas o time, mas a possibilidade de expansão do negócio para fora do Brasil. Fundada em 2010 com o nome Meus Pedidos pelos sócios Tiago Brandes, Celso Tonelli e Rafael Trapp, a empresa já recebeu investimentos Série A dos fundos Qualcomm Ventures e Monashees Capital. Em 2017, foi uma das seis brasileiras selecionadas para participar do programa de aceleração Google Launchpad, no Vale do Silício. Segundo o CEO Tiago Brandes, 2021 foi, até agora, o melhor ano da Mercos. Com a operação lucrativa, a empresa contratou uma consultoria para encontrar o parceiro que permitisse crescer. “Fomos apresentados à nuvini e, desde o início, nos identificamos com a cultura empreendedora e o sonho de ser o maior grupo de SaaS do Brasil”, disse Brandes.

Já a confiança de Schurmann na expansão da nuvini não se baseia apenas num sonho. Ela parte dos resultados que suas investidas têm apresentado. No caso da Bossa Nova, foram mais de 600 startups, dentro e fora do Brasil. “À medida que vemos mais casos de sucesso como Loggi, Quinto Andar ou Nuvemshop, que hoje vale R$ 3 bilhões, o ambiente se torna mais pujante.” Outro fator de crescimento do negócio reside no fato de o Brasil ter, segundo o CEO da nuvini, “muito para ser resolvido”. Na opinião de Schurmann, só agora estamos percebendo que a tecnologia pode ser o melhor caminho na busca de saídas para os problemas brasileiros. “Alguns segmentos ainda não se recuperam da pandemia e há espaço para crescer. A nossa ineficiência em diversas áreas pode ser o vetor para a criação de soluções.”