Os veículos eletrificados (100% elétricos ou híbridos) conquistam cada vez mais espaço no mercado brasileiro. Em 2020, foram comercializadas 19.745 unidades, 66,5% acima das 11.858 de 2019, de acordo com dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (Abve). De janeiro a abril deste ano, 7.290 exemplares novos chegaram às mãos dos consumidores, alta de 29,4% na comparação com o mesmo período de 2020. Com base no desempenho do setor, a entidade já projeta 28 mil vendas até dezembro. Normas nacionais e internacionais para redução da emissão de carbono fizeram as montadoras levar também a tecnologia à linha dos pesados.

A Mercedes direcionou R$ 100 milhões ao eO500U, o primeiro chassi de ônibus elétrico feito pela marca no Brasil. O montante integra ciclo de investimentos de R$ 2,4 bilhões no País entre 2018 e 2022. O próximo passo será voltado ao segmento de caminhões. “Optamos inicialmente por implantar no sistema urbano de ônibus, porque é o maior impacto”, disse à DINHEIRO Roberto Leoncini, vice-presidente da Mercedes-Benz. “Agora, é normal que venha o caminhão. Já estamos trabalhando nisso”, disse. Não há data prevista para o lançamento.

A prioridade pelo sistema de transporte urbano elétrico é justificada. Lei municipal de São Paulo, de 2017, determina que até 2027 os ônibus que circulam pela cidade deverão poluir 50% menos. Diante da situação, a empresa alemã acredita ter potencial para colocar 200 unidades em circulação já em 2022, o que ajudará os operadores do sistema a atingir a meta de redução de CO2. “O sistema de São Paulo tem 14 mil ônibus. E provavelmente se torne um dos maiores mercados para o elétrico, por ser o maior da América Latina.” A produção na planta em São Bernardo do Campo (SP) vai atender também às demandas de países latino-americanos, da Europa e da Oceania.

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“A produção do chassi elétrico é o primeiro passo da Mercedes-Benz do Brasil rumo ao mundo da eletromobilidade” Karl Deppen Presidente da Mercedes-Benz no Brasil e CEO para a América Latina.

Os maiores mercados normalmente demandam ônibus com capacidade superior para passageiros. A empresa desenvolveu em parceria com os operadores um modelo padrão, de 13,2 metros, com assentos para 80 pessoas, diferentemente dos utilizados pela concorrência, com “12 metros e pouco, mais curto.” Apesar de não revelar o valor do chassi — estima-se ao menos R$ 800 mil cada —, o executivo destaca a economia gerada pelo modelo na comparação com o atual, movido a diesel. Além da “redução significativa” no custo de manutenção, a vantagem do sistema, segundo Leoncini, se dá principalmente na hora do abastecimento, diante dos aumentos recentes do litro do diesel. A autonomia do ônibus é de 250 quilômetros. “Tomando por base uma tarifa normal, não agora nesse período infeliz para se falar de taxa de energia, deve ser até 35% mais barato abastecer um veículo elétrico em relação ao movido a diesel.”

O alemão Karl Deppen, presidente da Mercedes-Benz do Brasil & CEO América Latina, afirmou que, com a novidade, a operação brasileira segue alinhada à estratégia global do Grupo Daimler de práticas ESG (Ambiental, Social e de Governança). “Esse é o primeiro passo da Mercedes-Benz do Brasil rumo ao mundo da eletromobilidade”, disse. Entre os desafios para a marca no Brasil, na visão de Leoncini, estão a implantação dos sistemas nas garagens das operadoras, nem sempre bem localizadas, e a existência de sistema de distribuição de energia no entorno dos pátios. “Vamos treinar os mecânicos para lidarem com alta tensão.”

A importância da gestão do carregamento também é destacada. Segundo o vice-presidente, é um fator de sucesso para os ônibus funcionarem bem diariamente. “Um carregamento bem realizado preserva e alonga a vida das baterias”, afirmou. Com 70% de market share no mercado nacional urbano, a Mercedes aposta em adoção natural do sistema elétrico no segmento de fretamento, por terem características similares, como quilometragem específica por dia e tempo disponível para carregamento. “Normalmente, o fretado sai do ponto, faz a coleta dos colaboradores e permanece na empresa. Então você pode ter infraestrutura de carregamento nesses dois pontos”, afirmou. “Mesmo porque temos várias empresas que, por causa das práticas ESG, demandam soluções que emitam menos CO2. E o transporte de colaboradores também é uma operação significativa em algumas delas.”

O lançamento da Mercedes ocorre em momento de expansão do segmento no mercado brasileiro. Desde o dia 27 de agosto, a chinesa BYD, maior montadora global de eletrificados, iniciou o período de avaliação de um veículo no Paraná, em percurso de quase 120 quilômetros entre Curitiba e Ponta Grossa. Sinal de que os eletrificados chegam ao mercado brasileiro para dar um choque de portfólio nas companhias.