No primeiro dia de governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e primeiro pregão do ano, o índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa, caiu 3,06%, a 106.379,5 pontos, nesta segunda-feira (2). Nas últimas duas semanas de 2022, o índice acumulou alta de 6,7%. O dólar começou 2023 em alta, à vista ganhou 1,52%, a R$ 5,3580 na venda, maior valorização diária desde 25 de novembro (+1,838%) e patamar de encerramento mais alto desde 28 de novembro (R$ 5,3645).

O presidente Lula tomou posse neste domingo (1) prometendo revogar o teto de gastos e destacou o papel das empresas públicas no desenvolvimento do país, revogando atos que dão andamento à privatização de várias estatais.

“É a política, esses decretos eram esperados e o mercado financeiro reage de forma negativa, em especial os investidores locais. Os investidores estrangeiros continuam entrando e comprando ações no Brasil, que estão muito baratas”, disse o economista e gestor de investimentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Vinícius Machado.

Haddad: arcabouço fiscal terá premissas confiáveis e sustentabilidade

O novo governo vem defendendo o aumento de investimentos públicos em desenvolvimento regional, meio ambiente e ciência e tecnologia. Para Machado, investimento público bem feito pode impulsionar o setor privado. “O aumento de investimentos no setor público causa um estranhamento no mercado financeiro por aumentar os gastos, mas pode ser positivo. Nos últimos 50 anos, o crescimento que houve no Brasil foi puxado pelo setor público”, afirma o economista.

Combustíveis

O Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira (2) traz Medida Provisória (MP) assinada pelo presidente Lula que prorroga a desoneração de combustíveis no país até 28 de fevereiro. A decisão foi tomada para evitar um aumento expressivo nos postos de gasolina logo no começo do novo governo. A medida foi criada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em meio ao avanço dos preços dos combustíveis e tinha prazo até 31 de dezembro de 2022.

Na semana passada, o ministro da Fazenda Fernando Haddad, que foi empossado hoje (2), e o ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, chegaram a negociar a edição de uma nova medida para prorrogar a isenção por ao menos 30 dias, porém Haddad recuou e Guedes não editou nova MP.

A isenção dos combustíveis custa mais de R$ 52 bilhões aos cofres federais. Haddad disse que o presidente Lula quer discutir a política de preços com a nova diretoria da Petrobras, que vai tomar posse daqui a quarenta dias.  “A ideia foi esperar a nova diretoria da Petrobras”, afirmou o novo ministro, durante a cerimônia de posse.

“As falas do agora ministro da Fazenda Haddad refletem no mercado devido ao teto de gastos, não que haja uma grande surpresa dos investidores em relação ao aumento de gastos, mas os incrédulos recebem um balde da água fria, quando na outra ponta das contas publicas, as receitas (impostos) são impactadas na manutenção da desoneração dos impostos federais por pelo menos mais 60 dias”, explica Daniel Abrahão, especialista em mercado financeiro e assessor na iHUB Investimentos.

A estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patrícia Pereira, considerou sem credibilidade o posicionamento do novo governo e viu uma falta de alinhamento entre presidente e ministro. “Os ativos brasileiros estavam melhorando com a expectativa de que a isenção sobre os combustíveis não fosse prorrogada. Essa questão vai no sentido contrário à preocupação do ajuste fiscal”, afirma a economista.