Existia um clima de euforia contida nos corredores da Latin America Defentech, LAD, o maior evento de defesa militar da região, realizado no Rio de Janeiro na semana passada. Executivos da indústria bélica e representantes de governos não comentavam publicamente, mas em conversas reservadas não disfarçavam o entusiasmo com o setor nos próximos anos. ?Desde a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria não tínhamos um momento tão favorável como este?, disse um diretor de um dos maiores fabricantes de armamentos do mundo. O mercado começou a dar sinais de revitalização a partir dos atentados de 11 de setembro de 2001 e, desde o início da crise entre EUA e Iraque, retomou de vez a velocidade perdida. Calcula-se que a movimentação do setor atinja anualmente US$ 350 bilhões.

Mas a mudança mais profunda vai além do aumento na demanda. Segundo analistas que circulavam pelos estandes, a ofensiva de George W. Bush sobre o Oriente Médio está levando alguns importantes países a pensar duas vezes antes de comprar produtos bélicos de empresas americanas. ?Grandes países, sobretudo da Ásia e América Latina, vão querer alternativas de fornecimento fora dos EUA?, afirma Jean-Paul Perrier, presidente da francesa Thales International, um dos maiores fornecedores mundiais de programas e soluções para defesa militar. ?A transferência de tecnologia por parte dos fabricantes passará a ser fundamental para garantir a autonomia e independência dos países. E os EUA não repassam tecnologia.?

Esse novo ambiente cria um mundo
de oportunidades para empresas
não-americanas, como a própria
Thales. Há dois anos, os franceses fecharam com o Brasil um contrato de US$ 120 milhões para modernizar radares adquiridos da companhia nas décadas de 70 e 80. Agora, estão na expectativa de definições sobre o mais vultuoso projeto militar em curso na América Latina: a licitação de US$ 700 milhões das Forças Aéreas Brasileiras para o início de renovação da sua frota. A Thales participa do consórcio favorito na concorrência, ao lado da Embraer e da também francesa Dassault.

Oportunidades como essa atraíram tanta gente para a LAD. A feira registrou um crescimento de 25% em seu espaço físico em comparação à edição de dois anos atrás. O número de expositores aumentou 20%. Mais de 50 delegações oficiais estiveram presentes ao evento. A América Latina é um imenso mercado a ser explorado. Segundo a Forecast International/DMS, os países da região investirão US$ 32 bilhões em 2005, contra US$ 28 bilhões registrados em 2002.

Valia tudo para chamar a atenção de possíveis compradores. Havia tanques e helicópteros estacionados em torno do edifício principal do evento. Vendedores com roupas camufladas faziam demonstrações com fuzis. A Dassault montou um simulador para des-tacar as maravilhas do Mirage BR 2000-5 MkII, seu mais recente lançamento. Outra atração foram as Landmine Resistant Combat Boots, botas com dispositivo para identificação de minas terrestres. O acessório foi utilizado na guerra do Iraque por tropas americanas e inglesas.