SÃO PAULO (Reuters) -O dólar reverteu a alta de mais cedo e fechou em queda contra o real nesta quarta-feira, com investidores realizando lucros na moeda norte-americana aqui e no exterior após dias seguidos de compras e conforme se debruçaram sobre dados de inflação nos EUA acima do esperado.

O dólar à vista caiu 0,65%, a 5,4040 reais, após dois pregões seguidos de alta em que a cotação acumulou ganho de 3,23%, o maior para o período em um mês.

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A decisão da Câmara dos Deputados, ao analisar a PEC dos Benefícios, de rejeitar requerimento para que o Auxílio Brasil de 600 reais tivesse duração ilimitada e estimativas da Instituição Fiscal Independente (IFI) de reversão de déficit para superávit primário em 12 meses até junho por parte do Governo Central compuseram um quadro doméstico mais benigno nesta quarta, abrindo espaço para o alívio no dólar.

A moeda chegou a subir 0,51%, para 5,4673 reais, no pico do dia, na esteira dos dados que mostraram inflação anual de 9,1% nos EUA em junho, acima do esperado e novo pico em quatro décadas. Mas o alívio posterior do dólar no mercado externo atraiu vendas também aqui, levando a divisa na mínima a cair 1,43%, para 5,3614 reais.

Lá fora, o índice do dólar –que mais cedo chegou a ganhar 0,36% e bater 108,59, nova máxima em 20 anos– cedia 0,17% no fim da tarde, a 108,02. O euro, que mais cedo afundou a 0,9998 dólar, piso em duas décadas, voltou a 1,0056 dólar, recuperação que ajudou a alavancar divisas emergentes e de risco como o real.

A trégua na demanda por dólar, porém, pode ter vida curta. “É tudo isso: inflação muito forte, muito enraizada, disseminada, que vai levar o Fed a subir mais os juros e o dólar para cima, com risco de recessão global”, disse Fernando Fenólio, economista-chefe da WHG.

Elencando entre os motivos potenciais altas fortes de juros nos EUA, o Goldman Sachs elevou de forma expressiva a expectativa para a cotação do dólar ante o real em três meses, citando “elevados riscos de curto prazo” para algumas divisas emergentes num cenário que inclui também euro fraco, incertezas sobre crescimento chinês e recuo das commodities.

O banco agora vê o dólar em 5,50 reais ao fim de três meses, ante 4,70 reais no cenário anterior. A projeção em seis meses pulou de 4,80 reais para 5,30 reais, enquanto a de 12 meses foi mantida em 5,00 reais.

Evidenciando as fragilidades do câmbio doméstico, o Goldman Sachs coloca o real entre as moedas com mais alto “beta” (uma medida de sensibilidade) a potenciais cenários negativos.