Unindo lazer, aventura e sofisticação, o mundo náutico vive um bom momento no País, gerando negócios que vão muito além de seus tradicionais mercados, como Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina, sede do maior estaleiro de iates de luxo da América Latina. Impulsionado pela pandemia e pelas mudanças de comportamento que ela impôs, incluindo a restrição a viagens, muitos viram nas embarcações a chance de oferecer mais qualidade de vida para as famílias. E muitos dos que já navegavam têm aproveitado o momento para investir em modelos maiores, mais novos e mais luxuosos. Com isso, o setor ampliou sua base de usuários. Para Marcio Ishihara, especialista no mercado náutico e idealizador do Internacional Bombarco Show, em Brasília, “o barco se mostrou uma ferramenta indispensável para quem queria ter uma vida a céu aberto, mas ainda assim continuar em um ambiente seguro”.

Navegando nessa boa maré e no aquecido mercado de alto padrão, a Azimut Yachts registrou um crescimento de 50% no último ano. O estaleiro italiano de embarcação de luxo tem em Itajaí (SC) sua única fábrica fora da Itália. Como carro-chefe da empresa, o 27 Metri, lançado no final de 2020, é comercializado por R$ 54 milhões. Projetado pelo arquiteto italiano Achille Salvagni, é uma mansão náutica com direito a cinco suítes em seus 350 m2 de área. A sofisticação aparece em todos os detalhes, das janelas panorâmicas até a escada que liga os dois pavimentos, com degraus em ônix natural. Os banheiros têm mármore italiano e há uma garagem para motos aquáticas. Na fábrica brasileira, quatro unidades são produzidas por ano. Na Itália, 20. Entre o seleto grupo de proprietários do iate está o jogador de futebol Cristiano Ronaldo. No Brasil, clientes são empresários que buscam opções de lazer para a família.

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“Decidimos mudar de eixo para ajudar a construir um novo mercado náutico explorando toda a região Centro-Oeste do País” Marcio Ishihara idealizador da feira Internacional Bombarco Show.

DIVERSIFICAÇÃO Mas não é apenas do alto luxo que vive o mundo náutico. No oceano de possibilidades que cerca o setor, modelos de entrada mais acessíveis e de tamanhos menores também fazem sucesso. “Boa parte da comunicação das empresas que atuam no mercado náutico privilegia o consumidor de maior poder aquisitivo. Por isso muita gente não imaginava que poderia comprar um barco pelo que ele oferece em termos de qualidade de vida”, disse Ishihara.

O estaleiro nacional Fibrafort é um dos que apostam na diversificação de oferta. Com mais de 30 anos de mercado, a empresa produz modelos de 18 a 42 pés. A gerente comercial e de marketing da empresa, Barbara Martendal Yamamoto, disse que é preciso ter o barco de entrada para trazer os novos consumidores. “Queremos atender a todos e todas as áreas de navegação.” Como resultado da estratégia, a empresa comercializa entre 700 e 800 unidades por ano.

LUXO SOBRE AS ÁGUAS Iates de até 350 m2 atraem quem busca exclusividade. Ao lado, lancha no Lago Paranoá, em Brasília, que tem mercado aquecido. (Crédito:Divulgação)

Também de olho nessa diversificação, Marcio Ishihara idealizou o Internacional Bombarco Show. Realizado pela primeira vez em 2020, de forma on-line, em 2022 o evento será híbrido, com a parte presencial no Lago Paranoá, em Brasília, de 9 a 12 de junho. A expectativa é de gerar mais de R$ 150 milhões em negócios e buscar o potencial de uma região ainda pouco atendida pelo setor. “O mercado náutico se voltou para o litoral e se esqueceu de toda a cadeia agrícola, agropecuária e rios navegáveis do interior do Brasil. Hoje, 80% desse potencial ainda não é explorado”, disse Ishihara. “Decidimos mudar de eixo para ajudar a construir um novo mercado náutico explorando toda a região Centro-Oeste do País”.

Na visão do Francesco Caputo, CEO da Azimut Yachts, o fim da pandemia não representa um perigo para o setor. “Sou muito otimista. Talvez as pessoas estejam procurando em viagens exóticas do outro lado do mundo o que podem ter aqui com a própria embarcação a meia hora de casa”, afirmou.