Que líder, empreendedor, comerciante, colaborador dedicado ou chefe de família nunca ouviu que “a sua história daria um filme”? Hoje, essas pessoas de destaque (e o destaque pode ser apenas entre os herdeiros) já podem deixar seu legado em cenas e depoimentos com mais facilidade e em menos tempo. Com o barateamento dos custos e os benefícios da tecnologia, o mercado audiovisual está se tornando mais democrático e especializado. Basta o desejo de transmitir a história, as conquistas ou mesmo o conhecimento reunido ao longo dos anos, querer inspirar parentes ou colaboradores, e procurar quem realize esse trabalho.

Foi com essa ideia que o jornalista Fabio Schivartche e o fotógrafo Kiko Ferrite tiveram o insight de criar uma produtora de cinebiografias e documentários com qualidade de cinema e ajudar a preservar os legados desses laços para as futuras gerações.

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O Estúdio Eon iniciou suas atividades no final do ano passado mirando esse nicho de mercado que ainda é tímido no Brasil. Schivartche, o Xivas, conta que após a abertura da empresa, ele e Kiko se surpreenderam quando interessados procuraram a produtora não apenas para contar a história de suas famílias, mas associarem também as biografias empresariais de sucesso que muitas delas desenvolveram ao longo dos anos.

“Nós miramos inicialmente nas histórias de famílias. Em setembro do ano passado, muitas pessoas que nos procuraram vieram com essa ideia de empresas familiares. Essas famílias tinham o hábito de fazer livros antigamente, que é um recurso bacana para deixar a história registrada, mas o filme parece uma evolução. Você conta uma história linda e objetiva, que vai sensibilizar e encantar as pessoas”, comentou ele sobre essa transição do registro gráfico para o visual.

Um trabalho recente feito pelo Eon envolveu a Família Wessel, conhecida no mercado brasileiro de carnes. É uma dessas histórias em que o DNA familiar está misturado ao mundo dos negócios. Com mais de 180 anos no ramo, os Wessel sobreviveram ao avanço nazista na Bulgária e fugiram da Europa com a invasão soviética no pós-guerra.

No Brasil desde 1957, a família seguiu no ramo das carnes e criou o primeiro açougue sem açougueiros, no final de 1974. A marca se notabilizou pela comercialização do carpaccio, fazendo da peça o carro chefe da empresa.

Eva Wessel, de 96 anos e matriarca da família, e o filho István, atual comandante dos negócios, são o fio condutor do material que Xivas e Kiko entregaram especialmente no último dia das mães. O documentário está disponível na íntegra no perfil do Estúdio no Vimeo.

A família Wessel comanda uma das maiores empresas de carnes do Brasil e viu a história virar filme
A família Wessel comanda uma das maiores empresas de carnes do Brasil e viu a história virar filme (Crédito:Divulgação)

Novas gerações que assumem as empresas – centenárias ou com data de fundação mais recente – também procuram a produtora para homenagear quem por elas passou e, ao mesmo tempo, para inspirar funcionários.

“Estamos tentando organizar o mercado e somos a primeira empresa que é especializada em produzir esse tipo de conteúdo. Existe um certo desconhecimento do setor, de como levar essas histórias, mas também das pessoas, de como fazer e contar a história. Elas se interessam pelo projeto quando mostramos como ele funciona”, explica Xivas.

A equipe conta com 13 pessoas e o processo de elaboração do trabalho envolve pesquisas históricas, análise documental, de jornais e entrevistas com os personagens, além do básico de toda produção, com roteiro, filmagem e montagem.

O custo da produção depende do tipo de história que será contada e se muitas entrevistas serão realizadas. A logística também é um fator importante nessa equação. O valor total fica a partir de R$ 100 mil por filme.

O mercado audiovisual está mais acessível e elástico para quem produz. Xivas observa que equipamentos de ponta hoje estão mais em conta do que 15 anos atrás. Boas Câmeras, luzes e lentes de ótima qualidade podem ser adquiridas com um orçamento relativamente baixo para quem está começando.

Tecnologia e digitalização dos processos também tornam o trabalho menos penoso e o material final tende a sair com maior riqueza de detalhes.

Coronavírus faz a demanda por restaurações e digitalização subir

Com a pandemia, as entrevistas no Eon foram deixadas de lado, mas a parte de análise dos documentos e pesquisa de acervo seguem em ritmo normal. Enquanto isso, outro ramo do segmento audiovisual cresce com o confinamento.

A Video Shack, produtora que atende segmentos B2B e B2C e tem entre os clientes a Universal, Globo Filmes e a Paramount, viu a demanda por materiais institucionais ser completamente afetada pelo coronavírus. Com as restrições impostas pelos decretos de isolamento social, a empresa começou, no entanto, a receber muitos pedidos de resgate de acervos familiares gravados em fitas VHS e filmes Super 8.

Ricardo Langer, CEO da produtora, conta que a demanda consumer explodiu nas últimas seis semanas.

“Nos últimos anos, eventualmente produzíamos edições de documentários familiares, mas principalmente, digitalização de fitas VHS e fitas de filmadoras para DVD e mídias digitais. Porém, nas últimas semanas, notamos um aumento de 150% na demanda de serviços de laboratório para digitalização de fitas de família, filmes, negativos, slides e fotos”, conta Ricardo.

Os serviços são realizados por delivery, com motoboy retirando e entregando o material em domicílio. Ricardo explica que a equipe trabalha em turnos alternados, respeitando as normas de segurança sanitária

“Não imaginávamos essa oportunidade de negócio nesse período de crise sem precedentes. A economia muitas vezes é imprevisível”, pontua Ricardo.