Sócia ou dona de dezenas de empresas problemáticas, a estatal Eletrobrás agora está à venda, segundo o governo. Os ministérios da Fazenda e de Minas e Energia (MME) já estudam uma modelagem para definir como será a privatização. Enquanto isso, o mercado financeiro, mais no “oba oba” da notícia do que de olho nos fundamentos da empresa, pisou no acelerador e garantiu uma valorização de quase 50% nos ativos da empresa, elevando suas ações para R$ 21,20 ao final do pregão desta terça-feira, 22, na B3.

A Eletrobrás, até os anos 2000, era o principal ativo do governo federal. Superava até mesmo a Petrobras, que vivenciou um década de valorização até 2010. No entanto, com a crise elétrica no final do governo de Fernando Henrique Cardoso e os desmandos no setor elétrico no governo de Dilma Rousseff, a empresa definhou.

Antes mesmo do anúncio feito pelo MME, na noite de segunda, 21, a Eletrobrás já havia definido a venda das 6 distribuidoras que detém sozinha e da Celg, que detém 51%. As dificuldades em atingir as metas exigidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que demandam investimentos, foi o principal motivo a estimular a venda.

Outras empresas, das áreas de transmissão e geração, não estavam à venda. Um dos principais motivos são as brigas judiciais enfrentadas pela estatal com seus sócios.

Por exemplo, em Belo Monte, os grupos privados que detêm participação na hidrelétrica querem que a Eletrobras compre a energia que ninguém quer, cerca de 20% do potencial de geração da usina, por quase R$ 200 o megawatt-hora. Em Santo Antônio e Jirau, outras duas hidrelétricas instaladas no Rio Madeira, a estatal também briga com seus parceiros. Na primeira, com a Odebrecht, e na segunda, com a Camargo Corrêa.

Na Transmissão, o sufoco não é menor. A estatal sofre com atrasos e também culpa parceiros. E uma das obras, a do linhão de Belo Monte, o entrevero é com a chinesa State Grid.

Assim, com tantos problemas a serem resolvidos, além das resoluções das denúncias de corrupção e das investigações internas que já consumiram mais de R$ 160 milhões do caixa da companhia nos últimos dois anos, quem comprá-la precisará de muito esforço para colocá-la de volta nos trilhos.

Por outro lado, a notícia foi celebrada pelo mercado financeiro, que de repente se deparou com uma festa surpresa. Da noite para o dia, literalmente, a alta das ações da Eletrobrás fizeram a companhia ganhar R$ 10 bilhões em valor de mercado. E ainda pode ganhar mais. Segundo relatório do Santander, o preço alvo da ação é de R$ 29,54, cerca de 39% acima do último negócio realizado nesta terça. “A possível privatização pode liberar novo valor para os acionistas, como um novo parceiro ou investidores que podem acelerar o plano de reestruturação e melhorar o custo da dívida e a estrutura de capital”, escreveram os analistas do banco.

Nos bastidores em Brasília, corre o boato de que o governo quer R$ 20 bilhões pela venda do controle acionário, desde de que mantenha o poder de veto. O valor, apesar de vultuoso, ajuda muito pouco no combate ao rombo fiscal, que entre 2017 e 2019 pode chegar a um déficit superior a R$ 450 bilhões.

“A sinalização é melhor do que qualquer outra coisa. Mostra que o governo está disposto a vender ativos, o que abre uma porta para a melhoria da gestão. Até pouco tempo, essa era uma seara intocável”, diz Newton Rosa, economista da Sulamérica Investimentos.

Apesar de todos os problemas, Rosa acredita que há interessados, possivelmente chineses, na compra da Eletrobrás. “Com um mundo nadando em liquidez, há demanda para ativos como esses, principalmente de compradores estrangeiros”, diz.