Algumas boas e inovadoras ideias de negócios não precisam ser empreendimentos de milhões, unicórnios em um ano. Em 2015, se você entrasse em um mercado como o Fresh & Easy na Hollywood Boulevard, ia perceber alguns dos caixas sem ninguém. Era o passe e pague as compras na confiança. Os sócios da Vendify Valdemir Araujo e Eduardo Perez tiveram a experiência nos EUA. Era a migração das vendas de snacks de vending machines para o modelo Honest Market. Depois de participarem de uma feira do segmento de varejo em Las Vegas, resolveram experimentar aqui e em 2019 começaram a operação da Vendify no mercado corporativo. Primeiro, ofereceram aos consumidores a conveniência da compra express ali mesmo no escritório. Um ano depois veio a pandemia e aí ter um minissupermercado em um condomínio residencial se mostrou uma mão na roda completamente diferente.

Você pode descer de pijama e chinelos, à 1h da madrugada, para comprar pães congelados para um lanche, uma garrafa de vinho, frios, o açúcar e o detergente que acabou, um sorvete gourmet e até ração para o cachorro. “O formato surgiu por força da pandemia, quando as pessoas nos escritórios migraram para o home office”, disse Perez. Hoje a Vendify tem 150 lojas instaladas em São Paulo e no interior, sendo 90% em condomínios, com projeção de fechar 2022 com 200. Nelas, são cerca de 500 produtos, que vão de café da manhã, passando por cuidados com a casa ou com o pet, refeição prática ou saudável, a sobremesas mais refinadas. Alguns podem achar que 150 não é muito — mas para se ter uma ideia, o Carrefour tem 103 lojas Express em São Paulo.

Claudio Gatti

EDUCAR O CONSUMIDOR Uma parte das lojas são instaladas nos halls das torres de apartamentos ou escritórios, mas não é o ideal. A Vendify tem melhorado a experiência ao ocupar áreas ociosas usando simpáticos “contêineres” com ar-condicionado, geladeiras, além da maquininha leitora de código de barras que finaliza sozinha a venda, sem nenhum ser humano envolvido. Tudo organizado como um mercado gourmet. “O Honest Market é um conceito novo para o consumidor brasileiro e passamos a ser um agente de formação, para que ele perceba que não é preciso cadeados ou monitores para que exerça sua honestidade”, disse Araujo. Os casos de não pagamento são raros.

Us$ 5 milhões investimento inicial dos sócios, em 150 lojas, atualmente

Cada uma dessas lojas custa R$ 150 mil — no hall, 60% desse custo. Não é o condomínio que paga por isso. E em sua maioria, como a implantação valoriza o imóvel, a instalação do mercado pode ser aprovada em assembleia com voto da maioria presente. O custo é absorvido pela empresa. Agora, as empreendedoras já estão construindo prédios com áreas destinadas a isso, uma moda que, parece, veio para ficar. Os preços, por enquanto, são só um pouco mais altos que um supermercado, já que compram diretamente da indústria — é de 5% a 10% mais caro, mas pela conforto, muitos pagam. “Queremos levar conveniência com a segurança de ter um mercado a um toque de botão de elevador”, afirmou Perez. A empresa ajuda na conta de luz e paga uma gratificação pela cessão do espaço. Tudo é operacionalizado por um sistema de vendas à distância, emitindo relatórios de gestão, saldo de mercadorias e manutenção de equipamentos em tempo real. Claro que as geladeiras com cervejas podem ser um atrativo para adolescentes, mas elas têm um controle de acesso e só abrem para quem tem cadastro comprovando idade. Já os sorvetes…

500 itens média de produtos em cada loja. eles vão do café da manhã a cuidados com a casa

O investimento inicial, capital próprio, foi de US$ 5 milhões e agora os sócios estão na primeira rodada de captação, já que investidores bateram na porta da empresa — provavelmente alguém que mora em um condomínio, precisou de uma cerveja gelada às 2h e pensou “hum, que boa ideia!”. Para o segundo semestre, a Vendify espera o retorno aos escritórios e uma retomada dos negócios nessa área, aumentando e voltando a diversificar seu faturamento.