A promessa do dinheiro de volta é um afago no bolso do brasileiro médio hoje, que desbrava o consumo com taxa Selic em alta e a inflação de dois dígitos. Se a renda tem cada vez menos valor, os programas de benefícios se tornam mais preciosos. O Méliuz surfa essa onda com recompensas para o consumo on-line. Além de funcionar com a loja virtual que tem os descontos como premissa, a empresa oferece um cartão em parceria com o Banco Pan, sem anuidade e com taxas de cashback mais atraentes – como reza a cartilha do produto financeiro na era digital. Mas a cooperação deve ser jogada para escanteio em 2022, quando a startup lançará seu próprio cartão.

Por trás da decisão, anunciada na divulgação de resultados, ambas as companhias já vinham tomando direções opostas. Da parte do Méliuz, a compra do Acesso Bank por R$ 324 milhões em maio trará mais autonomia para as operações de serviços financeiros e capacidade para unificar a jornada de compra no app. “A experiência com o cartão ainda é truncada”, disse Lucas Marques, sócio e diretor de operações da empresa. “Esse movimento foi natural, porque sempre quisemos consolidar a jornada em uma só plataforma, o que abrirá muitas portas para nós.” Sem comentários sobre possíveis avanços para compra do Méliuz, a aliança desandou definitivamente neste mês com a aquisição da Mosaico, seu rival no mercado, pelo Pan.

Assim, o casamento ruma ao fim sem um ponto de ruptura. Por enquanto, o Méliuz garante que irá manter a operação dos dois cartões, ainda que o foco esteja na projeção do seu mais novo produto, com lançamento previsto para janeiro. Em entrevista à DINHEIRO, o executivo preferiu tratar das perspectivas da startup no mercado. Capitalizada, a companhia só tem um foco: crescer. O ritmo acelerado, agressivo e, segundo analistas, certeiro das aquisições é combustível para essas projeções. “Estamos mirando empresas de qualquer porte ligadas aos setores de e-commerce e de serviços financeiros, que tenham tecnologia no DNA”, afirmou Marques.

QUERIDINHA DO MERCADO Desde o IPO há um ano, ações da empresa valorizaram 139%. (Crédito:Divulgação)

A corretora Genial avalia o Méliuz como uma organização exponencial pelas entregas de resultados e pela diversificação das frentes, o que amplia a sua avenida de crescimento. “Além do cartão, lançaremos a conta digital sem taxas e com a possibilidade de investir em criptomoedas”, afirmou o fundador e CEO da empresa, Israel Salmen.

Com abertura de capital na bolsa há um ano, o Méliuz é uma das tech brasileiras da leva de IPOs da safra 2020-21 mais acreditadas pelo mercado. Mesmo com a volatilidade dos papéis, influenciada pelo cenário de alta das taxas de juros, as ações da empresa valorizaram 139% nesse período. Nos últimos 12 meses, findos em setembro, o ecossistema, que também agrupa as operações das plataformas de ofertas Picodi e Promobit, chegou a 9,5 milhões de usuários ativos, alta de 168% ante o mesmo período no ano anterior.

No terceiro trimestre deste ano, o ritmo de crescimento chegou a 30 mil novas contas por dia útil e atingiu volume recorde de R$ 1,1 bilhão em vendas apenas no e-commerce do Méliuz, 72% acima do mesmo período no ano anterior. “Superamos o quarto trimestre de 2020, que é tradicionalmente mais forte em vendas e estava aquecido com a digitalização do consumo.”

De acordo com pesquisa da plataforma, 71% dos usuários pretendem aproveitar as ofertas desta Black Friday para ir às compras. Valendo-se dos seus dez anos no mercado, o Méliuz entende que consegue desdobrar o plano de negócio mesmo com a economia em crise. “Chegamos até aqui com menos infraestrutura e capacidade do que temos agora. O horizonte para nosso crescimento é promissor”, disse Lucas Marques.