Após ter amargado a perda de 3,1 milhões de participantes desde o fim de 2014, o sistema de saúde suplementar começa a ver uma recuperação. “Esperamos o ingresso de até 1,4 milhão de pessoas em 2018”, diz Solange Mendes, presidente da Federação Nacional de Saúde Complementar (FenaSaúde). Com 47,4 milhões de beneficiários em setembro de 2017, a expectativa é que, até 2020, o segmento volte aos 50 milhões de participantes, recorde de 2014. Para isso, porém, as operadoras terão de enfrentar um vírus bastante resistente: a inflação médica, que infla os custos das seguradoras e pressiona as mensalidades muito acima da inflação. Ainda não há dados fechados para 2017, mas os números de 2016 são um bom exemplo. De acordo com a FenaSaúde, o custo com procedimentos aumentou 12,6% em 2016, acima dos 6,2% de inflação medidos pelo IPCA.

A reclamação crônica das seguradoras é que os hospitais cobram caro por materiais, medicamentos e próteses. “A maior parte dos contratos entre operadoras e hospitais segue o princípio de conta aberta, em que tudo o que é consumido nos atendimentos entra no cálculo do pagamento, sem maiores controles”, diz Solange. Segundo a executiva, uma mudança no modelo de remuneração dos hospitais poderia acabar com esse problema. “O pagamento por pacote de serviços pode melhorar a previsibilidade dos custos”, afirma ela. Os hospitais, claro, oferecem uma segunda opinião.

Eduardo de Oliveira, vice-presidente da Federação Brasileira de Hospitais, diz que os custos vêm subindo devido à ampliação da lista de procedimentos obrigatórios, definida a cada dois anos pela Agência Nacional de Saúde (ANS). “Um exemplo foi a obrigatoriedade de os planos de saúde cobrirem transplantes de medula óssea”, diz ele. “Nenhuma operadora tinha calculado esse aumento de desembolso.” Oliveira admite, porém, alguns problemas. “Alguns hospitais, especialmente os menores, podem forçar a mão nos preços de forma errônea, mas eles são uma minoria”, afirma.

Tem remédio? Eliane Kihara, sócia da PwC Brasil, avalia que uma solução é mais transparência na relação entre operadoras, hospitais e clientes, por meio do uso de plataformas digitais. “Um sistema de classificação da qualidade de serviço dos hospitais pode auxiliar o setor”, diz. Entre as operadoras, uma das tendências para cortar custos é investir em hospitais e centros de atendimento próprios, além de apostar na tecnologia. Hoje, 70% da receita de R$ 163,3 bilhões do setor vem de planos contratados por empresas, e elas vêm conferindo as faturas por conta própria. Um bom exemplo é o do aplicativo Sharecare, lançado pela SulAmérica e que possui tecnologias para monitorar as condições dos segurados e estimulá-los a se cuidar. “É um gestor de saúde das pessoas e ajuda a reduzir os riscos e os custos”, diz Gabriel Portella, CEO do grupo SulAmérica.


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