Numa apresentação a empresários na sede da Câmara Americana de Comércio (Amcham), em São Paulo, em abril, o engenheiro goiano Henrique Meirelles, 72, fez questão de destacar um fato histórico do local. O prédio foi construído na sua gestão como presidente do Conselho de Administração da entidade, na década de 1990, quando ele também presidia o BankBoston. Atualmente, ele batalha para conquistar uma nova presidência, a do Brasil, o projeto mais ambicioso de sua carreira, que ajuda a explicar a ênfase dada ao período da iniciativa privada no início da sua palestra. A trajetória de executivo de um banco internacional é um dos pilares da sua mensagem como pré-candidato pelo MDB, partido do presidente Michel Temer, de quem foi ministro da Fazenda até 7 abril.

Com a roupa nova de pré-candidato, Meirelles ainda soa como ministro da Fazenda entre os empresários. Exibe uma apresentação de PowerPoint carregada de gráficos e números que exigem pausas para explicações técnicas, como a inflação de preços administrados ou a média do PIB. Os dados compõem uma defesa da consolidação econômica feita pelo governo atual, com medidas como o teto de gastos e a reforma trabalhista, que servirão como vitrine da campanha. “Sempre acreditei em realizar, mostrar resultado e depois discutir”, afirmou Meirelles à plateia. A novidade do discurso é a crítica aos adversários, incluída sempre que possível. “Temos de tomar cuidado para não entrar no clima de propostas bombásticas, de um lado ou de outro, que não têm condições de trazer resultados concretos ao País.”

Nas perguntas dos empresários, indicações da nova fase. Querem saber como o “presidente” Meirelles lidaria com o Congresso e se tocaria uma reforma política. Entre o final da sessão e uma entrevista, pausa para uma mordida numa barra de chocolate guardada no bolso, sinal de que o ritmo pesado de trabalho da época da Fazenda deve se acelerar ainda mais na campanha. Prova disso é que, dois dias depois, num evento para empresários no Club Transatlântico, na capital paulista, presidentes de empresas europeias tiveram de antecipar o almoço em face de um atraso de quase uma hora do palestrante. Ao se explicar, Meirelles citou um compromisso de partido. Mais tarde, lembraria que a estrutura da sigla é um dos fatores que ajudarão a melhorar seu desempenho. Hoje, ele não ultrapassa 2% das intenções de votos, ao lado de Temer, também pré-candidato pelo MDB.

Fé e força: na Fazenda, Meirelles levou mensagem econômica ao púbico evangélico. Na foto, com Robson Rodovalho e Maria Lúcia Rodovalho, fundadores da igreja Sara Nossa Terra (Crédito:Jorge William / Agência O Globo)

Meirelles minimiza os números, diz que é cedo para conclusões, defende pesquisas qualitativas que citam atributos alinhados ao seu perfil e apresenta como potencial o fato de que menos 30% dos brasileiros sabem o que faz o ministro da Fazenda, além do atraso na percepção de números melhores na economia. “A mensagem é simples: basta perguntar a um trabalhador se havia demissão na empresa no passado e agora como está”, responde a um empresário. Suas apresentações são acompanhadas por profissionais de vídeo, que compõem uma equipe de campanha considerada enxuta ainda.

A ideia de disputar a Presidência é aventada ao menos desde 2002. Na época, no comando do BankBoston, Meirelles recebeu convites de diversos partidos, entre os quais o PMDB, presidido pelo então deputado Michel Temer. Acabou aceitando a oferta do PSDB para se candidatar a deputado federal em Goiás. Foi eleito com o maior número de votos no Estado, numa campanha financiada do próprio bolso – atualizados pela inflação, os R$ 877 mil investidos na época equivalem a cerca de R$ 2 milhões. A disposição para se financiar novamente pode ser um trunfo nesta eleição.

Embora os especialistas também minimizem a importância dos números nesse momento, eles citam obstáculos para que o ex-ministro se consolide no páreo. “O desempenho ruim nas pesquisas dificulta a construção de alianças e o apoio dentro do partido”, afirma Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria. “Parece que a agenda realista para ele é participar de uma chapa presidencial.” A hipótese se mantém viva no partido. “Não vejo a necessidade de lançamento rápido, até porque as candidaturas possíveis do MDB são conhecidas, mas essa estratégia pode mudar”, afirma o deputado federal Alceu Moreira, presidente do PMDB no Rio Grande do Sul. Diante de notícias sobre uma composição com o PSDB, Meirelles vem reafirmando que não aceitaria ocupar o cargo de vice-presidente (leia mais aqui).

A campanha tenta vender uma imagem de Meirelles como salvador da economia, chamado para resolver problemas nos governos Lula e Temer. O ex-ministro foi presidente do Banco Central do petista de 2003 a 2010. “Ele corre o risco de ser o candidato de uma nota só, especialista apenas na economia”, afirma Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCOP). “Está circunspecto ao empresariado e isso não o elege.” A opinião é semelhante entre os empresários, universo em que muitos sonham em vê-lo eleito. “Ele tem de entrar na sociedade brasileira em toda sua estratificação, não só entre empresários”, afirma Ingo Plöger, presidente do Conselho Empresarial da América Latina. “Não devemos esquecer, porém, que ele foi deputado e já enfrentou as urnas.” Há mais sombras no caminho, desde a filiação a um partido manchado por denúncias até serviços prestados para a J&F, que admitiu crimes, além da derrota na reforma da Previdência.