No auge da boataria sobre sua demissão da presidência do Banco Central, Henrique Meirelles foi chamado ao principal gabinete do Palácio do Planalto. Em lugar do famoso bilhete azul da demissão, porém, recebeu de Lula a carta branca da permanência. O presidente disse a Meirelles para ficar tranquilo, não se importar com a crise política e continuar tocando o BC como vinha fazendo. Ouviu a resposta: ?Vou cuidar das minhas coisas e provar que a ficha está limpa?. Pronto, Lula se convenceu e, na última quarta-feira 20, lá estava Meirelles à frente de mais uma reunião do Copom. A Selic foi mantida a 19,75% ao ano, o que representa um índice mais de dez vezes superior à taxa média de 40 países pesquisados pela Consultoria GRC Visão, de apenas 1,3%. Quando comparados à taxa média de 0,7% ao ano cobrada nos países desenvolvidos, os juros reais do Brasil são 20 vezes maiores. ?Cada vez mais o Banco Central mostra o seu conservadorismo?, atacou Paulo Skaf, presidente da Fiesp, após o último Copom. ?Manter a taxa no nível atual afugenta novos investimentos, invibializa os atuais e ainda apodrece a economia?.

Antes da tranquilizadora reunião com Lula, Meirelles passou por dias turbulentos. Ele chegou a conclusão que sua gestão no BC, com nove altas consecutivas nos juros de setembro do ano passado a maio, inviabilizou seu sonho de ser governador de Goiás. Mas enquanto ele pensava que estava sem destino, fracassavam as sondagens de mercado, feitas pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci, para substituí-lo. Até mesmo o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal, disse, polidamente, não. Outro fator de sorte para Meirelles apareceu na crise política. Com o valerioduto de escândalos, suas diatribes contábeis tornaram-se insignificantes. Até o momento, afinal, o que há contra ele é a autorização da Procuradoria da República para que seja investigado pelo STF. Na Receita Federal, suas contas estão sendo vasculhadas há dez meses e tendem a ser remetidas ao Supremo com a chancela de ?conta limpa?. O maior trunfo do presidente do BC vem dos Estados Unidos. Documentos da Internal Revenue Service (a Receita Federal americana) mostram que o presidente do BC ? ex-presidente do BankBoston em Nova York ? está com as contas em dia. Mesmo assim, ele mobilizou um grande escritório de advocacia de Brasília para fazer-lhe a defesa. Hoje, está tranquilo. ?Ele sabe que a política econômica é a única coisa que se salva nesse governo?, disse à DINHEIRO um dos diretores do BC. ?Com esse aval, é prudente que ele caia da cadeira?.