O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, veio a público na última semana para formular uma definição original sobre o papel da instituição que dirige. Meirelles disse que a única contribuição que o Banco Central pode oferecer para o crescimento da economia é a estabilidade da moeda. Ponto final. Era como se dissesse: ?Crescimento não é comigo?. E, num movimento esperado, ele promoveu na quarta-feira 14 uma mudança mínima, quase imperceptível, dos juros. A taxa Selic, que é definida pelo BC e vem sendo reduzida a passos de tartaruga, caiu de 16,25% para 16%. O resultado foi uma nova onda de desânimo empresarial. ?Foi bem menos do que as condições internas e externas permitem?, disse Horácio Lafer Piva, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo. Dentro das fábricas, os últimos dados disponíveis, os de fevereiro, apontam que a produção industrial recuou 0,92% em relação ao mês anterior. ?É um conservadorismo que inibe ainda mais os projetos de investimento?, lamentou José Augusto Marques, da Associação Brasileira das Indústrias de Base.

Meirelles pode até acreditar na hipótese de que o crescimento da economia não depende tanto do Banco Central. Mas é uma visão que não bate com os números. Apenas com juros da dívida interna, o Brasil gastou em 2003 a cifra de R$ 150 bilhões, mais de 10% do PIB. Outros países emergentes, como México, Argentina e Chile, não gastam mais do que 3% do PIB com esse tipo de despesa. ?Juros menores serviriam para liberar o gasto público e permitir uma redução de impostos para estimular o consumo?, diz o economista Ricardo Carneiro, da Unicamp. Uma outra comparação também é desfavo-
rável ao Brasil. O México, que registrou uma inflação de 1,57% no primeiro trimestre de 2003, tem juros anuais de 6%. O Brasil, com
uma inflação de 1,85%, tem uma taxa de 16%. ?Essa diferença não faz sentido?, avalia o economista José Castanhar, da Fundação Getúlio Vargas. Além disso, um novo estudo da Fiesp revela que os juros representam 10% do custo dos produtos industriais brasileiros. Isso significa que uma taxa civilizada, em vez de reacender a infla-
ção, como teme Meirelles, poderia até reduzir os preços. Não é por outra razão que o vice-presidente José Alencar começou a rascunhar uma proposta de pacto nacional entre o governo e o setor privado, que consistiria em juros baixos e o compromisso dos empresários
de não reajustar seus preços.

O jeito Meirelles de gerir o Banco Central também vem sendo criticado pelo fato de o Brasil ter perdido a grande chance de aproveitar a onda de liquidez e juros baixos que prevaleceu em 2003. Na última semana, os dados de inflação nos Estados Unidos indicaram que o Federal Reserve, de Alan Greenspan, deverá começar a subir os juros ? hoje em apenas 1% ao ano. Além disso, na quinta-feira 15, o JP Morgan reduziu a classificação do País e contribuiu para a alta do chamado risco-Brasil. ?Quando quiserem ser menos conservadores, poderá ser tarde?, disse Júlio Sérgio Gomes de Almeida, economista do Instituo de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. O medo de muitos analistas é que Meirelles reaja a um possível choque externo de modo previsível, ou seja, com juros ainda mais altos.