Quando foi fundada, em 1997, a fabricante taiwanesa de chips para smartphones MediaTek sabia que precisava fazer algo diferente para deixar os limites da pequena ilha da Ásia Ocidental. Duas décadas depois, a companhia ainda não conquistou o mundo, mas, ao menos, alcançou a liderança na América Latina. Dados consultoria IDC, do primeiro semestre de 2017, mostram que a MediaTek foi responsável por 40% das vendas de processadores para smartphones na região, superando a americana Qualcomm, líder global no fornecimento de chips para celulares inteligentes. “Entramos atrasados no mercado, precisávamos mudar o jogo”, diz Russ Mestechkin, diretor de vendas corporativas da empresa para Estados Unidos e América Latina.

Para ganhar mercado na América Latina, a estratégia da MediaTek foi evitar bater de frente com a americana Qualcomm. A solução foi mudar a forma como os celulares eram produzidos para conquistar não o coração das grandes empresas, como Samsung, Sony e LG, mas sim seus bolsos. “Enquanto as concorrentes apenas vendiam os chips, nós criávamos um processador completo”, afirma Mestechkin. A ideia era desenvolver todo o aspecto técnico do componente, deixando-o totalmente integrado ao sistema móvel Android e facilitando sua instalação nos celulares.

Dessa forma, as fabricantes de smartphones podiam a se concentrar em outros pontos de seus produtos, como câmeras, telas, baterias e os demais itens que acabam sendo os principais atributos buscados pelos consumidores na hora da compra. “A vantagem de seus produtos está nos custos”, diz Rob Enderle, analista da consultoria americana Enderle Group. “Eles oferecem uma qualidade adequada com preços agressivos.” Essa estratégia da MediaTek abriu espaço para o desenvolvimento rápido de produtos. Um dos exemplos é da fabricante brasileira Positivo, que contou com o apoio da taiwanesa para lançar a marca Quantum no mercado local. “Quanto maior o número de marcas capazes de fazer celulares, melhor será para o consumidor”, afirma Samir Vana, gerente geral da MediaTek no Brasil.

A julgar pelos números, a tática está dando certo. As vendas cresceram 75% no Brasil no primeiro semestre deste ano, segundo a consultoria IDC. Por aqui, a empresa detém uma fatia de 30,2%, atrás ainda da Qualcomm. “A MediaTek sempre teve força no mercado de celulares intermediários”, diz Leonardo Munin, analista da consultoria IDC. Globalmente, a MediaTek ainda tenta sair da sombra da Qualcomm. Mas também tem conseguido avançar. Em 2016, a fabricante taiwanesa detinha 23% do mercado mundial de processadores para smartphones, segundo dados da consultoria americana Strategy Analytics. Há dois anos, essa fatia era de apenas 14%. No mesmo período, sua rival americana perdeu mercado. Sua participação encolheu de 54% para 39%.