O gosto é de Coca-Cola. Mas o refrigerante que mais cresceu em vendas este ano tem um sabor especial: ideologia. A bebida gasosa não tem nada de novo. É fabricada nas versões tradicional, limão, laranja e café (!) e apenas em embalagens família (de 1,5 litro). Mas em menos de três meses, vendeu 3 milhões de garrafas. Já seria um fenômeno. Espere para ouvir o resto: o Oriente Médio encomendou 3,6 bilhões de litros para 2003. A bebida que ganhou força no mundo árabe expandiu-se para 23 países, como Grã-Bretanha, Holanda, Espanha e Suíça. Em duas semanas, chega aos Estados Unidos e, pouco depois, até os brasileiros poderão sentir seu gostinho. ?Fiz contatos com engarrafadores no Brasil para começar a produzir em março?, conta à DINHEIRO o empresário francês Tawfik Mathlouthi, criador da bebida.

Ah, a ideologia? A tal bebida chama-se Mecca-Cola ? uma referência ao sítio sagrado islâmico. Ou, como prefere Mathlouthi, ?uma alternativa islâmica para a Coca-Cola?. E isso fica mais que explícito. A diferença começa no rótulo, onde se lê: ?Não beba estupidez. Beba Mecca-Cola?. Além disso, a bebida lançada em 6 novembro ? primeiro dia do ramadã (principal feriado muçulmano) ? é fabricada segundo preceitos islâmicos. Sem mulheres na produção e com a bênção de um xeque. Nos cartazes publicitários espalhados por restaurantes não há cantores famosos. Apenas a promessa de que 10% da renda obtida com os refrigerantes será destinada a projetos de caridade palestinos. Mais um preceito religioso, que exige que o muçulmano doe parte de sua renda aos pobres.

Mas muito mais que uma receita religiosa, a criação da empresa de refrigerantes foi um ato político. O empresário, que é dono de uma emissora de rádio em Paris (Mediterranean), resolveu lançar a Mecca-Cola em agosto do ano passado. Na época, começavam os boatos sobre uma possível invasão ao Iraque. ?É uma guerra. Os americanos já mataram 1 milhão de iraquianos. Nós estamos contra-atacando?, comenta. Sua forma de guerrear é pacífica. ?Queria atingir a América naquilo que eles mais prezam, o dinheiro.? Nada melhor que atacar um dos símbolos americanos, a gigante de Atlanta. Se a campanha prejudicou os balanços da Coca-Cola ninguém sabe. A companhia americana não divulga esses dados. Mas o executivo faz questão de avisar que, em alguns países árabes, as receitas da gigante caíram 20%.

Novas armas. Ao contrário da concorrência, o empresário não tem problemas em revelar sua fórmula de fazer dinheiro. Ele lançou uma marca de distribuição ? não tem uma única fábrica, não contratou funcionários… O projeto começou a ganhar corpo quando ele convenceu uma engarrafadora francesa a produzir pequenas quantidades. Depois, foi contatado por um distribuidor espanhol. E, por fim, fez uma parceria com empresários dos Emirados Árabes que investiram 4 milhões de euros em uma fábrica que começa a operar em setembro. Do bolso dele, saíram 22 mil euros (o dólar é proibido até nos balancetes da empresa de Mathlouthi). Mas a empreitada rendeu lucros de 1,9 milhão de euros. Até agora.

Mathlouthi gostou da idéia. E resolveu aumentar seu arsenal de guerra. Lançará o Halal Fried Chicken (HFC) para combater o poderoso ícone americano KFC e o sabão em pó Ajiel, que remete à marca Ariel, da Procter&Gamble. Ambos americaníssimos e com um forte sabor de ideologia.