O leiloeiro James Lisboa possui um modo peculiar de conduzir suas vendas. O carioca, que vive em São Paulo desde a infância, não perde tempo. Dono de uma fala acelerada, Lisboa anuncia obras de artistas de renome, como Di Cavalcanti, Candido Portinari e Tomie Ohtake, em questão de segundos. Os lances vão sendo apresentados pelos potenciais compradores, de forma ainda mais rápida. Cada segundo é precioso para o leiloeiro. Em seu último evento, realizado em março deste ano, as vendas atingiram R$ 4 milhões. O destaque da noite foi a tela Maternidade, de Lasar Segall, pintor impressionista lituano radicado no Brasil, arrematada por R$ 540 mil.

Para garantir o maior lance, Lisboa conduz os eventos como se fossem verdadeiros espetáculos. “Meus leilões costumam ser comparados a shows dos Rolling Stones”, diz ele, sem falsa modéstia. Acessível para poucos, o mercado brasileiro de arte está extremamente aquecido. De acordo com a fundação holandesa Tefaf, o mercado global de arte cresceu 7%, no ano passado, para € 51 bilhões. A cifra, inclusive, ultrapassou o recorde de € 48 bilhões registrado, às vésperas da crise econômica. No Brasil, mesmo sem números consolidados, a Abcat, associação que representa as galerias, afirma que as vendas cresceram acima dos 20%, no ano passado, 200 vezes acima do PIB nacional.

A verdade é que nunca se vendeu tantas obras de arte no mundo como agora, e os leiloeiros brasileiros querem continuar pegando carona nessa tendência. “Esse movimento era impensável há uma década”, afirma Lisboa. No ramo há 29 anos, ele foi parar no negócio ao constatar que sua carreira de pintor, iniciada em 1968, não deslancharia. Para completar sua renda e até mesmo divulgar o tipo de serviço que prestava, realizava diversos eventos por todo o Estado de São Paulo. Hoje, Lisboa se limita aos quatro leilões anuais realizados por seu escritório, localizado no bairro dos Jardins, tradicional reduto de endinheirados paulistas, o que garante um faturamento de R$ 12 milhões.

Outro profissional das antigas, há 30 anos no ramo, o paulista Aloísio Cravo está terminando de selecionar as obras que vão a leilão em evento que comandará em São Paulo, na primeira semana de junho. A mais cobiçada delas é “O Caderno”, da artista plástica suíça, Mira Schendel, radicada no Brasil, falecida em 1988. Apaixonado pelo trabalho da própria Schendell e da brasileira Rosângela Rennó, Cravo decidiu deixar de lado os clássicos e partir para a arte contemporânea a fim de atrair novos clientes. “Hoje, os compradores vêm com um desejo muito grande pelo novo”, diz.

“Por isso, tento focar em obras dos últimos 15 anos.” Ao contrário do concorrente Lisboa, Cravo imprime um clima mais reflexivo aos seus espetáculos de venda. Dono de um timbre tranquilo, o leiloeiro procura aproveitar o escasso tempo que lhe sobra durante as vendas para falar mais sobre as histórias das obras aos espectadores. “Eu tento trazer mais informação do que emoção”, afirma Cravo. Antes dos leilões, Cravo costuma ir às residências dos vendedores das obras. Muitas vezes, ele tem de lidar com quadros e esculturas herdados pelos proprietários.

Por isso, com freqüência o valor sentimental das obras acabe sendo superior ao financeiro. “As pessoas precisam entender que nem tudo que possuem é tão valioso”, afirma Lisboa. Além disso, essa modalidade de negócio tem atraído aventureiros em busca da “nova Beatriz Milhazes”, pintora carioca que assina o quadro brasileiro de maior preço leiloado até hoje – “Meu Limão”, por R$ 4,4 milhões. Alguns, no entanto, esquecem que a obra nem sempre se valoriza da forma esperada. “Isso pode frustrar o investidor”, diz Pierre Moreau, sócio da Moreau e Balera Advogados e especialista no tema. “A aproximação precisa ser pela estética e o gosto, não pela expectativa do lucro.”

Por conta desse distanciamento, o empresário Fábio Carvalho, diretor da Gondolo Leilões, de São Paulo decidiu apostar em outro tipo de serviços em seus eventos. Atualmente, 90% da sua receita vêm dos leilões de relógios de luxo e de jóias. Somente 10% das vendas ficam por conta das obras de arte – percentual que pode minguar ainda mais. “Para escapar de falsificações e fraudes, decidi investir meu tempo e dinheiro em algo do qual tenho conhecimento, como os relógios”, afirma Carvalho, que exibia no pulso, durante a entrevista, um Rolex Submarino 1982, fabricado no ano de seu nascimento. “Minha logística, devido ao fato de que as peças são menores, melhorou muito.”