A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, está no meio de uma briga de grandes proporções. A razão é o novo Plano Diretor de São Paulo, que define o que se poderá construir ou não na maior cidade do País. Negociado em regime de urgência com os vereadores, a proposta de Marta enfrenta uma rejeição generalizada entre as construtoras e lideranças do mercado imobiliário de São Paulo. O motivo é simples. Depois do Plano, nenhuma edificação na cidade poderá, a princípio, ter área construída maior do que a metragem do terreno, a menos que as construtoras paguem R$ 180 à Prefeitura por metro quadrado adicional. Hoje, as construtoras podem erguer prédios com até quatro vezes a área do terreno, sem precisar pagar nada por isso. Os empresários alegam que os terrenos foram comprados nessas condições. ?Rebaixar a utilização de um terreno para depois vender o direito de voltar à situação anterior é totalmente inconstitucional porque fere direitos adquiridos?, alega Ronald Dumani, diretor do Secovi, o sindicato das empresas do mercado imobiliário. ?Isso vai encarecer os terrenos, os imóveis e expulsar a população mais carente para as favelas.? As críticas não ficaram restritas aos representantes da construção civil. Antônio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim, chegou a dizer que a gestão de Marta Suplicy seria pior do que a de Celso Pitta, alegando que a cidade está completamente abandonada. Um segundo ataque partiu da Fiesp. Seu presidente, Horácio Lafer Piva, criticou a pressa da prefeita em aprovar o novo Plano Diretor. ?Fomos atropelados pelo regime de urgência?, disse Piva.

O PT alega que a cobrança pela utilização dos terrenos existe em várias cidades do mundo. ?O zoneamento de São Paulo estava desatualizado?, argumenta Nabil Bonduki, urbanista e vereador do partido. A tentativa de criação de um novo Plano Diretor também não é inédita. No começo dos anos 90, a prefeita Luiza Erundina tentou fazer o mesmo mas depois recuou diante da oposição dos empresários. ?Marta Suplicy deveria fazer o mesmo, mas com ela não tem diálogo, só monólogo?, alega Dumani, do Secovi. Diante das críticas generalizadas, a prefeita de São Paulo não se incomoda. ?É normal que um projeto como o Plano Diretor provoque discussões acirradas?, pondera. A prefeita também não se abala com críticas como as de Antônio Ermírio, que classifica de isoladas. ?Em época eleitoral, as pessoas falam até o que não pensam?, analisa. Marta tem dito que sua administração será uma espécie de vitrine do PT quando a sucessão presidencial chegar perto da reta final. Para mostrar suas realizações, a prefeita chegou até a estourar o teto de gastos com publicidade, superando as despesas de governos anteriores. Mas, pelo jeito, a vitrine virou vidraça.