A União Africana (UA) celebra na próxima segunda-feira (30) uma cúpula marcada pelo retorno do Marrocos, que há 33 anos deixou a organização em protesto contra a admissão da República Árabe Saarauí Democrática (RASD), proclamada pela Frente Polisário no Saara Ocidental, um território que considera próprio.

Nos últimos meses, o rei Mohamed VI do Marrocos realizou várias viagens diplomáticas pelo continente para proclamar seu compromisso perante seus irmãos africanos.

Nelas, houve promessas de megacontratos, de trabalhar “pela paz e pela segurança” e de uma “nova cooperação sul-sul”. Além disso, Rabat vem tentando convencer os outros países do continente da vocação subsaariana do país e da necessidade “de recuperar seu lugar no âmbito da família institucional continental”.

O Marrocos deixou a UA em 1984 em protesto contra a admissão na organização da RASD. Seu retorno continua sendo um tema controverso no âmbito da UA.

Argélia e África do Sul, dois membros influentes da UA, opõem-se, ou são reticentes sobre esse retorno. De fato, os dois países apoiam há tempos a luta da Frente Polisário, que reivindica a independência do Saara Ocidental.

Segundo o analista político Gilles Yabi, radicado no Senegal, “o tema agora é saber se o Marrocos será reintegrado e, ao mesmo tempo, se não vai excluir o Saara ocidental da UA”.

“Sobre esse ponto”, completou, “há divisões muito claras no âmbito da UA”.

‘Confiante e sereno’

A relação de forças no Saara – onde há anos impera o status quo – beneficia o Marrocos. Já a Frente Polisário parece fragilizada após a morte de seu líder histórico Mohamed Abdelaziz, em maio de 2016.

Hoje, o Marrocos não põe como condição a expulsão da RASD da organização continental, mas garante contar com o apoio de 40 países (dos 54) da União. Além disso, assegura respeitar totalmente o procedimento de adesão e se declara “confiante e sereno”, segundo palavras de seu ministro das Relações Exteriores, Salahedinne Mekouar.

O aporte financeiro prometido pelo Marrocos – a sexta potência econômica do continente – deve ajudar a contribuir com seu retorno à organização, sempre demandante de recursos.

Excluir a Polisário

De acordo com a imprensa marroquina, porém, “não há a menor dúvida” de que “o objetivo a médio, inclusive a curto prazo, é obter a exclusão da Polisário”. Ainda segundo os jornais, os saarauís poderiam ser tentados a provocar incidentes armados e perturbar o cenário imaginado por Rabat.

Já a cúpula da UA tratará das inúmeras crises que afetam o continente, como o caos na Líbia, os grupos extremistas no Mali, na Somália e na Nigéria, ou as tensões políticas na República Democrática do Congo.

Por fim, embora o tema não esteja oficialmente na agenda da cúpula, a chegada de Donald Trump à Casa Branca centrará as conversas, segundo os observadores. Sua promessa de defender os interesses dos Estados Unidos levanta temores sobre sua relação futura com a África.

Os Estados Unidos são um dos principais contribuintes na luta contra os islamitas radicais somalis shebab. E a missão da União Africana na Somália já sofre uma diminuição de financiamento por parte da União Europeia.