O CORINTHIANS NÃO PRECISOU IR A TÓQUIO para ganhar o mundo. Bastou anunciar que Ronaldo Nazário, 32 anos, havia fechado um acordo com o time do Parque São Jorge para que a imprensa internacional revelasse o novo time do Fenômeno em cada canto do planeta. Da China à Argentina, do Oriente Médio à Inglaterra, grande parte dos jornais na quarta-feira 11 de dezembro, um dia depois do anúncio, publicou manchetes com o Corinthians estampado. O mesmo se seguiu em canais de televisão e nos principais sites na internet. “Num estalo, conseguimos internacionalizar o Corinthians”, diz Luis Paulo Rosemberg, diretor de marketing do clube paulista. A princípio, a notícia não parecia fazer sentido algum. Primeiro, porque Ronaldo tinha na mão uma proposta milionária do Manchester City, da Inglaterra, e, segundo, porque o Corinthians amarga uma dívida de R$ 90 milhões e não teria cacife para bancar o jogador. “Mas eles apresentaram um projeto que permite explorar novas receitas”, explica Fabiano Farah, empresário do jogador. Pelo contrato, Ronaldo receberá um salário fixo, algo ao redor de R$ 144 mil por mês, e ainda terá participação de 80% na venda de espaços na manga da camisa e no calção da equipe alvinegra.

Só o patrocínio na manga, estima o mercado, vale cerca de R$ 7 milhões. “O Corinthians ficará com 20% de uma receita que antes não explorava, terá um dos melhores jogadores do mundo e ainda ganha poder de barganha no fechamento de contratos publicitários”, diz Rosemberg. Para se ter uma idéia, a Medial pagou R$ 16,5 milhões para patrocinar o time, em 2008, enquanto a equipe lutava para voltar à primeira divisão do campeonato brasileiro. Como a Medial não renovará o contrato, o Corinthians já está em busca de um novo patrocinador e especula- se que, com Ronaldo em campo, possa fechar pelo dobro do valor. “A união das marcas Corinthians e Ronaldo é como a fusão do Itaú com o Unibanco”, diz Cesar Gualdani, da empresa TNS Sport Brasil. “Vai alavancar muito a imagem do clube. Para uma empresa que queira se internacionalizar, essa é a mídia ideal.”

O curioso é que Ronaldo está causando todo esse frisson sem pôr os pés em campo há um ano, quando machucou o joelho – a terceira lesão de sua carreira – em uma partida pelo italiano Milan. Muitos duvidam da sua capacidade de recuperar a boa forma e a comparação com Garrincha é inevitável. Em 1966, Mané, o craque das pernas tornas, chegou ao clube paulista no fim de sua carreira, com uma série de lesões, e teve um desempenho sofrível. O medo de que aconteça o mesmo com o Fenômeno é mais do que normal. Há ainda os problemas com os arranhões de imagem no episódio envolvendo travestis. “Independentemente de tudo isso, essa parceria é boa para o Corinthians”, diz Emmanuel Publio Dias, diretor de marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Isso, por enquanto, já pôde ser sentido pela SPR, empresa que licencia as franquias da loja oficial do Corinthians, mais conhecida como Poderoso Timão. Desde junho, foram abertas nove lojas e até o fim do ano serão inauguradas mais três. “Prevíamos abrir 40 lojas até o fim de 2009, mas estamos revendo as projeções para 60 lojas”, diz Pedro Grzywacz, diretor de marketing da SPR e também da Poá Têxtil, uma das fornecedoras dos mil produtos do Corinthians vendidos nas lojas. Exagero? “No dia em que o Corinthians anunciou a vinda do Ronaldo, um empresário com o qual estávamos negociando a franquia de três lojas há quatro meses ligou dizendo que queria assinar o contrato no mesmo dia.” As vendas de camisas também serviram de termômetro para medir a excitação dos torcedores

Logo no primeiro dia, 150 camisas com estampas do nome do jogador foram vendidas ao custo de R$ 169,90 cada uma. “Estamos preparando o lançamento de camisetas especiais da chegada do Ronaldo”, diz Grzywacz. Em 2008, foram vendidas cerca de 300 mil camisetas com a inscrição “Nunca vou te abandonar”, em alusão à queda do clube à segunda divisão. “Com o Ronaldo, esperamos vender um milhão de camisetas.” Como cada uma custará, em média, R$ 45,90, o clube levará 7% sobre o faturamento bruto de R$ 45,9 milhões. A Nike também prepara o lançamento de uma linha de produtos com Ronaldo e Corinthians, ambos patrocinados pela empresa de materiais esportivos. Mais: “haverá produtos que unirão Corinthians e R9”, diz Fabiano Farah, referindo-se à marca de Ronaldo. O clube ainda espera faturar alto com amistosos e bilheteria dos jogos. Há, evidentemente, o risco de que Ronaldo não volte a ser o fenômeno que era nos gramados e que boa parte das projeções dos dirigentes do clube não se concretize. Este, contudo, é um risco calculado. “O Corinthians não perderá dinheiro com a contratação”, diz Rosemberg.