No início de 2017, ao conceder uma entrevista exclusiva à DINHEIRO, Mark Mobius, gestor de fundos emergentes da empresa americana Franklin Templeton, disse que não pensava em se aposentar. Dois anos antes, em 2015, ele havia entregue a maior parte das tarefas burocráticas a outros executivos, mas ainda passava, em média, nove meses por ano a bordo do avião da empresa, visitando empresas ao redor do mundo. “Meu estilo de vida um tanto excêntrico, sem família, vida doméstica ou um lar no sentido tradicional, me proporciona muitos estímulos para ser criativo”, disse ele em sua autobiografia. Agora, Mobius vai desacelerar. Após três décadas na firma, ele anunciou, na segunda-feira 8, que se aposenta no fim de janeiro.

Formado em Artes, mestre em Comunicação e com Ph.D em Economia, Mobius é sinônimo de investimento em mercados emergentes. “Ele começou a pesquisas empresas quando não havia internet e era difícil até telefonar para os países nos quais investia”, disse o gestor americano Dan Fuss, de 84 anos, contemporâneo de Mobius. “Naquela época, quem saía a campo tinha uma vantagem enorme.” Quando foi trabalhar na Templeton, em 1987, aos 50 anos, o executivo já tinha uma carreira de analista e consultor. Sua grande tacada foi convencer o chefe, Sir John Templeton, que mercados emergentes eram um negócio promissor para os investidores. Deu certo.

A abordagem de olhar com os próprios olhos fez os fundos de Mobius superarem seus pares em 80% dos anos desde 1987. “Seu nome é sinônimo de investimento em mercados emergentes”, disse Greg Johnson, CEO da Templeton, ao comentar sua aposentadoria. Sua filosofia de gestão pode ser resumida em poucas palavras. “Escolho empresas sólidas e bem geridas, que têm boas perspectivas de valorização nos próximos cinco anos”, diz ele. No Brasil, as principais apostas do seu Brazil Opportunities Fund, com portfólio de US$ 29 milhões, são títulos públicos e papéis de renda fixa de bancos, segundo o relatório anual de junho de 2017.

Por aqui, a subsidiária da Templeton oferece apenas fundos off-shore, localizados fora do Brasil. É uma empresa pequena. Segundo dados da Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que representa o setor, em novembro a Templeton tinha R$ 4,1 bilhões em ativos, ocupando uma discreta 37ª posição entre os gestores. Entusiasta do Carnaval brasileiro, Mobius sempre vinha ao Brasil em fevereiro, para conversar com empresários e investidores e participar – comportadamente, claro – da festa no Rio de Janeiro. O gestor não informou como pretende ocupar seu tempo. Uma sugestão é passar mais tempo aqui, dando uma forcinha para o time local.