O vai não vai da Marisa, uma das maiores varejistas de moda do País, já perdura há tempos Nos últimos cinco anos, a companhia teve quatro presidentes. O último CEO, Adalberto Pereira dos Santos, renunciou na terça-feira (7), menos de 12 meses após assumir o cargo. Saiu também Marcelo Adriano Casarin, membro do conselho de administração. Junto das despedidas, veio o anúncio da contratação da BR Partners para assessoramento no processo de renegociação do endividamento de R$ 566,1 milhões e a Galeazzi Associados para apoiar no “aperfeiçoamento da estrutura de custos”, conforme fato relevante. A dança das cadeiras no comando da rede não preocuparia o varejo em tempos de paz. Mas hoje preocupa. O último movimento na cúpula da Marisa acende o sinal de alerta sobre uma importante empresa varejista, em um setor ainda assustado e ressabiado com os desdobramentos do escândalo da possível fraude de R$ 47,9 bilhões da Americanas.

Os números mais recentes da Marisa ainda são desconhecidos, mas o balanço do terceiro trimestre de 2022 (os mais recentes), mostram que a situação financeira é complexa. Na época, a companhia possuía uma posição de caixa de R$ 183,3 milhões, enquanto a dívida líquida chegava a R$ 566,1 milhões. No mesmo período, a queima de caixa somou R$ 72,7 milhões, e o faturamento R$ 2,5 bilhões, 16,3% a mais que no ano anterior.

R$ 566 milhões valor da dívida líquida da Marisa

Diversos fatores ajudam a explicar a atual situação da companhia. Olhando especificamente para o negócio, segundo a sócia e analista da Nord Research, Danielle Lopes, os motivadores são o MBank, serviço financeiro da empresa, e a gestão de estoque.

Para a analista, o perfil de clientes atendidos para crédito, com score baixo, elevou a inadimplência e custa caro. “Todo o aumento de capital que vimos a empresa fazer, o dinheiro foi direcionado para estes dois pontos [MBank e estoque].”

Já considerando uma análise sobre o setor de moda, é impossível não pontuar a concorrência estrangeira. Brigando pelos mesmos clientes que os da Marisa, empresas como a Shein conseguiram oferecer melhores opções e condições, e o varejo nacional não foi capaz de se adaptar. Na conferência de apresentação do resultado do terceiro trimestre de 2022, o então presidente Adalberto dos Santos já antecipava os desafios. “São players de tamanha magnitude que talvez não valha a pena, seja impossível até bater de frente”, afirmou.

Outra peça dessa história é o próprio varejo com sua característica intrínseca: o crédito. Segundo o diretor-geral da Faculdade do Comércio, Wilson Rodrigues, o setor necessita do dinheiro de bancos para suprir as suas necessidades, especialmente a de capital de giro, poder vender a prazo e lidar com fornecedores. “Todas as grandes varejistas têm passivos”, disse. Questão que até janeiro não era vista com maiores problemas, até que, no dia 11 daquele mês estourou o escândalo da Americanas e isso mudou todo o jogo.

Segundo Rodrigues, a fraude gerou um “estresse no varejo brasileiro” e fez com que o mercado financeiro ficasse mais atento e dificultasse o acesso ao crédito, prejudicando a operação de parte das varejistas. Como reação a tudo isso, a Marisa iniciou um processo de mostrar ao mercado que está se movimentando para resolver suas dívidas. A empresa, que não quis conceder entrevista e disse que se manifesta apenas por meio de fato relevante, tenta se antecipar a um problema que pode se tornar maior. A Americanas sabe bem disso.