A ruína de Harvey Weinstein – um dos principais executivos de entretenimento dos Estados Unidos, fundador do estúdio Miramax e produtor de sucessos como “Pulp Fiction” e “O Paciente Inglês” , hoje acusado de estupro e assédio sexual por mais de cem mulheres, dentre elas as estrelas americanas Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow –, afetou também o mundo da moda e seus negócios. Desde o surgimento das primeiras denúncias públicas contra Weinstein, em outubro do ano passado, cogita-se qual será o futuro da grife americana de alta-costura e joias Marchesa, presente em mais de 30 países e pertencente à ex-mulher do executivo, a atriz e modelo inglesa Georgina Chapman.

Logo após as primeiras denúncias, Georgina anunciou que estava se separando dele e prestou solidariedade às mulheres que sofreram abusos por seu marido. Mas o distanciamento do homem que virou o centro de um escândalo mundial não evitou um clima de boicote à marca. Celebridades dificilmente usarão os vestidos da grife. Nos últimos meses, também surgiram acusações de atrizes, como as americanas Jessica Chastain e Felicity Huffman, que alegam terem sido coagidas por Weinstein a usarem as roupas da marca de sua então esposa. Ele as queria desfilando com os vestidos da Marchesa em ocasiões de grande visibilidade, como os tapetes vermelhos das principais premiações do setor. Caso contrário, não as convidaria para estrelar suas produções, ou não financiaria seus filmes. Parceiros também começam a debandar. A joalheria americana Helzberg Diamonds planejava com a Marchesa uma coleção de anéis de noivado, para este ano, custando entre US$ 2,5 mil e US$ 9,5 mil. Mas desistiu do negócio.

Chantagem: Jessica Chastain (de azul) denunciou a pressão para vestir Marchesa. À esq., Georgina com sua linha para noivas (Crédito:Slaven Vlasic/Getty Images e Divulgação)

A trajetória da grife sempre esteve ligada ao relacionamento de Georgina com Weinstein. A Marchesa foi fundada em 2004, mesmo ano em que ela começou a namorar Weinstein. Em 2008, a linha de noivas da marca foi laçada, coincidindo com o período casou com poderoso executivo. Para evitar um mal-estar ainda maior, a Marchesa acabou cancelando sua participação na próxima semana de moda de Nova York, que aconteceria no dia 14 desse mês. Recuar faz parte da estratégia de recuperação de imagem. Na opinião do professor de gestão e comunicação de crises da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Belmiro Neto, o ideal seria que as sócias e os principais dirigentes se afastassem do comando da empresa, já que, diante dos fatos, “é muito provável que estivessem cientes das más-condutas de Weinstein, sendo no mínimo coniventes com elas”. Neto sugere, para a sobrevivência da Marchesa, atitudes como um pedido de desculpas ao público e gente nova na liderança. “As pessoas vão embora, mas as empresas podem ficar.”