O ato 1: o governo federal, os estados e os municípios nunca foram tão digitais em seus serviços. Três em cada quatro (76%, para ser exata) órgãos dos poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e do Ministério Público ofereceram pela internet os serviços públicos mais procurados pelos cidadãos em 2021. A taxa representa aumento de 22 pontos porcentuais em relação aos 54% registrados no levantamento anterior, feito em 2019, antes da pandemia. Fato 2: apenas 1% dos serviços funcionam adequadamente. Esse é o desenho da digitalização no Brasil. Alguns passos foram dados, mas é como andar sem sapato na areia quente. Vai dar trabalho, vai doer e alguém vai sair queimado.

Os dados fazem parte da 5ª edição da pesquisa TIC Governo Eletrônico, divulgada na terça-feira (26), que mapeou 504 páginas governamentais, totalizando 316.791 sites até maio deste ano e mostram que só 1% deles têm padrões que facilitam a navegação Do total analisado, apenas uma página não apresentou nenhum tipo de erro.

Entre o fato 1 e o fato 2, a realidade é que a revolução digital está transformando a maneira como o poder público se relaciona com a população, até em função das redes sociais. O levantamento do TIC Governo Eletrônico indica que 99% dos órgãos federais e 92% dos estaduais possuíam, em 2021, perfis em redes sociais, incluindo WhatsApp e Telegram.

99% dos órgãos vinculados ao governo federal já têm conta em ao menos uma rede social. nos estados o número é 92%

Para Alexandre Barbosa, gerente do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), o isolamento social e o aumento do acesso à internet ajudaram o País a acelerar seus serviços públicos digitais. A pandemia fez com que muitos órgãos públicos tivessem de buscar alternativas para que serviços públicos não fossem interrompidos, especialmente na fase mais intensa de distanciamento social. Segundo ele, a oferta de serviços públicos pela internet foi o caminho mais utilizado como estratégia de continuidade.

Apesar dos avanços, a incorporação de novas tecnologias ainda engatinha no setor público brasileiro. Entre as tecnologias analisadas pelo estudo, a mais citada durante as entrevistas foi o uso de inteligência artificial (IA). Já internet das coisas (IoT) e blockchain foram apontadas por menos de 20% das organizações federais e estaduais dos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público. Quase metade dos órgãos públicos federais usaram alguma tecnologia de IA nos últimos 12 meses (45%) e 22% dos estaduais. Sobre os tipos de tecnologias de IA adotadas, a aprendizagem de máquina para predição e análise de dados (32% do total de órgãos federais e 9% dos estaduais) e a automatização de processos de fluxo de trabalho (31% do total de órgãos federais e 11% dos estaduais) foram as mais citadas.

Uma das principais mudanças observadas na edição de 2021 do estudo foi o aumento da contratação de serviços de computação em nuvem em todos os níveis de governo. Na esfera federal, por exemplo, a adoção de software de escritório em nuvem cresceu 32 pontos percentuais em relação a 2019, alcançando 67% dos órgãos públicos federais no ano passado. Já a de e-mail em nuvem aumentou 25 pontos percentuais se comparado com a última edição, sendo reportado por 65% das organizações federais. Ainda, 44% dos órgãos públicos federais e 34% dos estaduais contrataram armazenamento de arquivos ou bancos em nuvem e 34% dos federais e 26% dos estaduais tem capacidade de processamento em nuvem.

Segundo Heber Fialho Maia, um dos coordenadores do estudo, o Brasil subiu da posição 52 para a 15 no ranking da ONU entre os países com maior oferta de serviços públicos digitais no ano passado. Já o Banco Mundial coloca o Brasil na 7ª colocação global. O País evolui em diversos aspectos, e ainda tem espaço para melhorar. Mas, em linhas gerais, a digitalização é uma grande conquista em eficiência. Tudo isso, no entanto, só importa se funcionar. Senão é só mais um ERROR 404 para a conta.