Não peça a Marcelo Nicolau – ou aos sócios Thiago Burgers e Romulo Perini – que fique de fora de qualquer um dos projetos sob gestão na Play Studio. Colocar a mão na massa é premissa na empresa, cujo lema é “tirar a ideia do papel”. Pode parecer simples. Esqueça. É dos maiores nós nas grandes corporações. “Identificamos oportunidades e criamos as soluções”, diz Nicolau. E o primeiro ganho é o de tempo. “O que numa companhia levaria dois anos e meio fazemos em seis meses.” Redução de 80%. Esse tipo de performance atrai gigantes como Carrefour, Nestlé e Visa.

A Play é um misto de consultoria de inovação com venture builder – modelo em que a presença do investidor não se dá apenas por meio do aporte, mas também com a participação integral na construção da startup, da plataforma ou da solução. Em português trata-se do bom e velho colocar-a-mão-na-massa. Em alguns casos, literalmente, como no projeto Vem de Bolo. O desafio colocado pela Nestlé era o de criar uma vitrine para dar suporte ao negócio de pequenas boleiras e confeiteiras. A resposta da Play foi a plataforma Vem de Bolo, marketplace que começa a ganhar musculatura.

100% FORA Lançada em dezembro de 2018, ainda está ativa apenas na cidade de São Paulo e reúne numa ponta profissionais que produzem doces e bolos e na outra os consumidores. Pedro Santelmo é o head da operação e diz que o objetivo estratégico da Nestlé – investidor por trás da Vem de Bolo – é entender esse segmento, tão forte dentro da economia informal. “Aqui é tudo 100% operado fora da Nestlé”, afirma Santelmo. Isso traz ganhos e respostas que não aconteceriam se a estruturação e a modelagem se dessem dentro da multinacional. Desde cadastro de fornecedores a prazos de recebimento, policies comuns em toda grande empresa. A conta é simples: a mulher que faz bolo e sempre vendeu na vizinhança seria barrada por nem ter CNPJ.

Esse é um ponto decisor para que grandes empresas busquem soluções de venture builder como as da Play. Não adianta ter área de inovação, é preciso ter cabeça de inovação. É por esse motivo que (quase) toda gigante dizendo querer ser startup é equivalente ao tiozão querendo pagar de rapper. Pode dar certo, mas a probabilidade é baixa. A Play monta uma estrutura apartada do pipeline de inovação, com baixo risco e baixo custo. As iniciativas nem sequer levam a marca da empresa ‘sponsor’, assim como não carregam sua estrutura de custos. O faturamento da empresa saiu de R$ 5 milhões em 2018 para a previsão de R$ 12 milhões este ano. Salto de 140%. E o share que vem de venture builder cresce em relação ao de consultoria. “Grandes empresas têm aquele medo de ser o primeiro a pular na piscina”, diz Nicolau. Mas como isso já aconteceu, a busca pelo modelo ‘building’ deve crescer. Talvez seja melhor se jogar na piscina.