A notícia se espalhou como rastro de pólvora pelas redes sociais: a polícia havia encontrado a mansão do temido Rogério 157, o poderoso chefão do tráfico da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Impulsivamente, cliquei no vídeo para conhecer os detalhes da vida “nababesca” do criminoso que botou a Cidade Maravilhosa de joelhos, agonizando em praça pública em meio a tiroteios diários, depois de declarar guerra ao seu ex-patrão, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o famoso Nem, hoje detido em um presídio federal em Porto Velho, em Rondônia.

As imagens mostravam, sim, uma casa confortável, com equipamentos eletrônicos e móveis planejados, mas em nada lembravam uma mansão. Rogério 157 ainda está longe – bota longe nisso! – de alcançar o sucesso financeiro de outro chefe de facção criminosa condenado a 59 anos por corrupção e outros crimes e que hoje repousa no Complexo Prisional de Benfica, na Zona Norte do Rio. Esse, sim, tem uma mansão (foto) daquelas dignas das páginas de revistas de decoração. Não ligou o nome à pessoa? O líder da organização criminosa que depenou o Rio de Janeiro é o ex-governador Sérgio Cabral.

Sua mansão na idílica Mangaratiba, perto de Angra dos Reis, será leiloada por R$ 8 milhões. Aos interessados, vai uma pequena descrição do imóvel. São 462 metros quadrados de área construída, cinco suítes, salas de estar e jantar, sauna, duas piscinas e, o melhor, de frente para o mar. Mas, antes que alguém se anime, já aviso que, tal qual Rogério 157, que se reunia com seus comparsas em sua casa na Rocinha para planejar crimes como execuções, extorsão de moradores e a distribuição da droga, Cabral também usava a luxuosa propriedade de Mangaratiba como quartel-general para arquitetar crimes ao lado de seus asseclas.

Ao todo, sete dos investigados suspeitos de fazerem parte da organização de Cabral eram vizinhos do ex-cacique do PMDB. Estima-se que, juntos, tenham desviado mais de R$ 1 bilhão em propinas, dinheiro retirado das áreas de transporte, saúde e obras públicas. Até mesmo o PAC do Complexo do Alemão foi alvo da ganância e, de acordo com o Ministério Público Federal, rendeu R$ 127 milhões para o criminoso e seus comparsas. Navego pela internet e me deparo com as fotos de Danúbia Rangel, mulher de Nem, considerada a rainha do tráfico, famosa por ostentar roupas de grife e uma vida de luxo.

A comparação com Adriana Ancelmo, ex-primeira-dama do Rio de Janeiro, parceira de crimes de Cabral, dona de uma invejável coleção de joias compradas com dinheiro em espécie, é inevitável. Acesso a rede social novamente e vejo uma manchete que salta aos olhos. Em uma entrevista ao jornal El País, o advogado de Nem, o criminalista Jaime Fusco, afirma que “se o Estado faz acordos com a JBS, por que não fazer com o tráfico para reduzir a violência?”. A lembrança que me vem à mente é a da cena final de Tropa de Elite 2 – O inimigo agora é outro, lançado em 2010.

A imagem aérea da Esplanada dos Ministérios com o Congresso Nacional ao fundo e a voz de Wagner Moura, no papel do eterno capitão Nascimento, com a seguinte mensagem: “Agora, me responde uma coisa. Quem você acha que sustenta tudo isso? É, e custa caro, muito caro. O sistema é muito maior do que eu pensava. Não é à toa que os policiais, traficantes e milicianos matam tanta gente nas favelas. Não é à toa que existem as favelas. Não é à toa que acontece tanto escândalo em Brasília, que sai governo, entra governo, e a corrupção continua. O sistema é foda. Ainda vai morrer muito inocente.” Infelizmente, o cinema, neste caso, só reproduziu a realidade. Até quando?