O Brasil será palco de uma das iniciativas mais inovadoras da Dow Química, a potência de US$ 28,4 bilhões e de atuação predominante nas áreas química e de plásticos. A partir da fábrica da Ford, que será inaugurada em outubro deste ano em Camaçari, na Bahia, a companhia fará sua primeira investida como fabricante de autopeças. A incursão nesse novo universo de negócios vem sendo desenhada há pelo menos um ano, em absoluto sigilo, por executivos brasileiros. O cuidado pode ser explicado. Em 1998, a empresa criou mundialmente uma divisão, batizada de Dow Automotive, para fornecer matérias-primas (resinas plásticas) para autopeças. Aqui, esse projeto deu um passo adiante. Em associação com a Arteb, tradicional nome do setor, a Dow transformou-se em uma das 29 fornecedoras de peças para o Amazon, o novo carro mundial da montadora americana. ?Produzindo uma linha de componentes automotivos, a Dow estará concorrendo com os próprios clientes?, conclui um empresário do setor, que preferiu não se identificar. As empresas envolvidas recusaram-se a falar sobre o projeto.

Pelo mercado, porém, a primeira experiência mundial da Dow no setor automotivo já não é um segredo. As instalações da companhia na unidade baiana da Ford estão avançadas e, até o final deste mês, seis das 32 injetoras de plástico importadas da austríaca Engel estarão chegando ao Brasil. As máquinas restantes deverão desembarcar ao longo dos próximos três anos. Com esses equipamentos a Dow fabricará componentes injetados de plástico, como pára-choques e peças internas do veículo. A produção de autopeças de plástico para automóveis é uma tendência mundial. ?Esse material garante, em vários casos, maior durabilidade, maleabilidade e segurança?, afirma o secretário executivo da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Adolfo Braga Neto. A entidade não fez ainda, porém, qualquer estimativa sobre quanto o segmento automotivo representa nas vendas dessa indústria. ?Mas sabemos que está crescendo.?

Além da expansão desse mercado, a Dow teve outros motivos para se aventurar no setor automotivo. Nos últimos cinco anos, as indústrias de setores como químico, petroquímico e de plástico investiram massivamente na produção, esperando um aumento da demanda mundial. A ampliação excessiva da oferta e a reversão no consumo obrigaram as empresas a rever preços e reposicionar os negócios. Algumas companhias com atuação tradicional no setor, como a DuPont e a Shell, decidiram pôr à venda sua área de plástico. A Dow não queria ficar para trás e encontrou uma saída estratégica: aplicar a matéria-prima que fabrica em produtos de maior valor agregado. Há três anos, parte da produção mundial de resinas vem sendo destinada à indústria de autopeças. Hoje, tem entre os clientes montadoras como a Daimler Benz, para quem fornece resinas para os painéis do Classe A, a General Motors (Celta) e a Volkswagen (modelo Golf). No ano passado, o presidente mundial da Dow, Michael Parker, contratou Larry Denton, ex-executivo da Ford, para dirigir a Dow Automotive. Assim, a idéia de fortalecer a área cresceu.

E foi o Brasil que deu um empurrãozinho. A subsidiária adquiriu em 1998 a Branco, empresa brasileira do setor de plástico para o mercado automotivo, compondo a Branco-Dow, especializada em resinas para autopeças, e passou a estudar a participação como fornecedora da fábrica da Ford, um complexo esparramado por 5 milhões de metros quadrados e com investimento programado de mais de US$ 1,2 bilhão (além de cerca de US$ 700 milhões aplicados pelos parceiros). ?As obras estão muito adiantadas e o número de contratações pela montadora e pelos fornecedores é crescente?, revela o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Bahia, Aurino Pedreira. As primeiras unidades dos 250 mil veículos previstos por ano chegarão ao mercado no final do primeiro semestre de 2002. Um dos principais articuladores do ingresso da Dow como transformador da resina plástica em peças automotivas é o Roberto Noronha, ex-responsável pela área de plásticos de engenharia, deslocado desde o mês passado para a matriz. O que se especula pelo mercado é que a ida do executivo brasileiro para os Estados Unidos tem como objetivo implantar lá o mesmo projeto.