Há pouco mais de um ano, o chairman da Avianca Brasil, José Efromovich, lotou de convidados um Airbus A330, com mais de 230 assentos, para celebrar a inauguração da rota São Paulo-Santiago. Eufórico, demonstrando bom-humor, o empresário afirmou que 2018 seria um ano histórico para a companhia. “Não tenho nenhuma dúvida de que registraremos lucro no ano, mesmo que seja pequeno”, garantiu Efromovich, em entrevista à DINHEIRO naquela ocasião. “O importante é a mudança de rota, com lucro no lugar de prejuízo e crescimento no lugar de reestruturação”, acrescentou. A menos de duas semanas de o ano acabar, pode-se afirmar que as coisas não saíram como planejadas por Efromovich.

Na segunda-feira 10, a Avianca Brasil protocolou um pedido de recuperação judicial na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo. Com uma dívida de R$ 50 milhões, débitos com aeroportos e prestações atrasadas junto a companhias arrendadoras, conhecidas como lessors, a empresa corria o risco de ter de devolver, a qualquer momento, 14 aeronaves para a Constitution Aircraft, empresa americana de leasing. A reintegração de posse de quase 30% de sua frota representaria o colapso da empresa e poderia levar a Avianca Brasil a ter o mesmo destino de Varig, Vasp e Transbrasil. A empresa argumenta que a decisão foi tomada em razão da “resistência de arrendadores a um acordo amigável”. O presidente da empresa, Frederico Pedreira, homem de c onfiança de Efromovich, não quis conceder entrevista. Em comunicado, no entanto, informou que “como primeira decisão da Justiça, teve seus pedidos garantidos, como a liberação de sua frota para o cumprimento de todos os voos programados, nos aeroportos onde opera” e garantiu que “a companhia reforça que suas operações não serão afetadas.”

Conforme DINHEIRO apurou, o pedido de recuperação judicial faz parte de uma arriscada manobra da companhia para forçar a flexibilização do pagamento de suas dívidas com os lessors. “Essas empresas são enormes e esmagam as companhias áreas em qualquer tentativa de negociação”, disse um executivo do setor. “Os arrendadores se comportam como se fossem ‘banqueiros dos céus’ e fazem o que querem. É uma coisa louca”, afirmou a fonte. Procurada, a Constitution Aircraft não retornou à reportagem.

O risco da Avianca é uma eventual recusa da Justiça ao seu pedido de recuperação judicial, o que colocaria a empresa em situação de fragilidade diante dos credores. Além disso, o episódio arranharia a imagem da empresa junto aos consumidores brasileiro e afugentaria passageiros, como aconteceu com outras companhias aéreas à beira da falência. Até o fechamento desta edição, na quinta-feira às 15h, a Justiça não havia dado um parecer sobre o pedido.

A dívida da Avianca, no entanto, de fato não justifica um pedido de recuperação. Seus compromissos em atraso, somando com arrendadores e com bancos, é de pouco mais de R$ 300 milhões, baixo em comparação ao faturamento estimado da empredsa, de cerca de R$ 3 bilhões neste ano. As perdas da Gol Linhas Aéreas, por exemplo, acumuladas entre janeiro e setembro deste ano, somam R$ 1,6 bilhão, com uma receita líquida projetada de R$ 11,5 bilhões. Outro detalhe é que a Avianca Brasil estava se preparando para uma fusão com a colombiana Avianca Holdings, controlada pelo irmão de José, Gérman Efromovich, e dona de um faturamento de US$ 4,7 bilhões no ano passado. “A recuperação judicial é uma ferramenta para garantir a proteção legal para a continuidade das operações, não sendo, necessariamente, sinal de pré-falência”, afirmou a jurista Laura Bumachar, sócia do Dias Carneiro Advogados, especializada em recuperação judicial. “Nesse episódio, está claro que a Avianca recorreu à Justiça por não ter conseguido uma negociação satisfatória com os credores.”