Por Sérgio Queiroz

RIO DE JANEIRO (Reuters) – Moradores da favela do Jacarezinho e ativistas dos direitos humanos protestaram nesta sexta-feira contra a violência policial, depois que uma operação da Polícia Civil na véspera contra o tráfico de drogas resultou em 25 mortes na comunidade na zona norte do Rio de Janeiro.

“Parem de nos matar”, disseram os manifestantes que marcharam em frente à favela carregando cartazes com as frases “Polícia assassina” e “Fim dos massacres nas favelas”.

“Eles iriam se entregar, os policiais entraram para matar. mataram, mataram. Vinte e cinco mães chorando. Eu quero meu filho”, disse a jornalistas Adriana Santana Araújo, de 36 anos. Ela afirmou que seu filho, de 23 anos, foi morto durante a operação policial.

De acordo com a Polícia Civil, 24 homens ligados ao tráfico de drogas foram mortos na operação. Um policial também morreu.

A Organização das Nações Unidas (ONU) e entidades de defesa dos direitos humanos pediram que seja realizada uma investigação independente sobre a operação policial, ressaltando o longo histórico de uso “desproporcional e desnecessário” da força pela polícia do Rio.

Esposa de uma das vítimas, Daniele dos Santos disse que seu marido, de 32 anos, morreu por estar “no lugar e no momento errados”. A moradora do Jacarezinho acusou a polícia de ter executado o marido que havia saído para comprar pão.

“Ele estava com uma bala na perna e depois o policial terminou de executar. Ele estava vivo, ele não estava armado, simplesmente ele estava no lugar e no momento errados. Ele foi comprar o pão”, disse.

A Polícia Civil nega ter cometido execuções e afirma que os homens mortos abriram fogo contra as forças de segurança.

“A única execução que houve na operação foi do policial. As outras mortes que aconteceram, infelizmente, foram de traficantes que atentaram contra a vida dos policiais e houve a resposta e acabaram sendo neutralizados”, afirmou o delegado Felipe Cury em entrevista coletiva.

O número de vítimas fatais da operação, que contou com veículos blindados e helicópteros, foi o maior em uma única ação policial no Rio, que sofre há décadas com a violência em ações de combate ao tráfico de drogas.

Apenas no primeiro trimestre deste ano, a polícia do Rio de Janeiro matou 453 pessoas e ao menos 4 policiais morreram em ações policiais, mesmo com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de acordo com a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW).

O STF determinou que a realização de incursões policiais em comunidades do Estado do Rio de Janeiro seriam limitadas, enquanto perdurar a situação de calamidade pública decorrente da pandemia da Covid-19. Segundo o Supremo, as operações devem ser restritas a casos excepcionais, informadas e acompanhadas pelo Ministério Público.

Nesta sexta-feira, O ministro Edson Fachin, do Supremo, pediu investigação ao procurador-geral da República, Augusto Aras, sobre a operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro no Jacarezinho, após ter dito que há fatos “graves” e indícios que poderiam configurar “execução arbitrária”.

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