Milhares de argelinos voltaram às ruas nesta sexta-feira, pela nona semana consecutiva, insatisfeitos com as concessões obtidas desde o início dos protestos contra o poder e determinados a rejeitar a transição prometida após a renúncia do presidente Abdelaziz Bouteflika.

Uma imensa multidão ocupa o centro de Argel, a capital, constatou um jornalista da AFP, enquanto no resto do país, especialmente nas cidades de Oran (oeste), Constantino e Annaba (leste), também há concentrações significativas, de acordo com jornalistas locais e a televisão estatal.

Em Argel, a polícia tem atuado, até o momento, de forma discreta.

“Sylmiya (pacíficos) apesar da provocação e do gás” lacrimogêneo, dizia um dos muitos cartazes exibidos pelos manifestantes. “Fora Bensalah”, gritava a multidão contra o presidente do Senado, Abdelkader Bensalah, considerado a encarnação do regime de Bouteflika, e que assumiu a presidência interina em 9 de abril, depois da renúncia de Bouteflika.

Os protestos maciços levaram Bouteflika, que governou o país por 20 anos, desistir de brigar por um quinto mandato e, por fim, renunciar ao poder.

A mobilização desta sexta-feira ocorre depois que o presidente do Conselho Constitucional, Tayeb Belaiz, uma das principais personalidades do regime, apresentou sua renúncia na terça-feira.

Belaiz, de 70 anos, fazia parte, juntamente com o chefe de Estado interino Abdelkader Bensalah e o chefe de governo Nureddin Bedui, do chamado “3B”, que os manifestantes querem derrubar.

– Contra o sistema –

A renúncia de Belaiz não foi suficiente para satisfazer os manifestantes, uma vez que seu substituto, Kamel Feniche, um magistrado membro do Conselho Constitucional desde 2016, é, segundo os manifestantes, um fiel do “sistema”.

Além de Belaiz, os manifestantes rejeitam que as instituições e personalidades nomeadas por Bouteflika administrem a transição.

E criticam o prazo muito curto de 90 dias para a realização de eleições presidenciais, como previsto pela Constituição.

Esta transição é apoiada pelo Exército, um protagonista essencial do processo, enquanto a classe política carece de uma mensagem inteligível em face da revolta.

Assim, a saída de Belaiz é mais como uma enésima concessão do que uma saída da crise.

O Exército “está convencido de que a gestão da crise passa por uma série de medidas de apaziguamento”, segundo Hasni Abidi, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas no Mundo Árabe e Mediterrâneo (Cermam), em Genebra.

O chefe do Estado Maior do Exército, o general Ahmed Gaid Salah, reiterou na terça-feira a importância de uma transição no marco institucional atual, embora sabia que “todas as opções seguem abertas” para “encontrar uma solução para a crise a curto prazo”.

Ele também afirmou que o Exército não atiraria contra o povo e garantiria que “nem uma única gota de sangue argelino será derramada”.