Agitando bandeiras libanesas e exigindo a “queda do regime”, milhares de pessoas invadiram as ruas de Beirute e de outras capitais, neste domingo (3), poucas horas após uma grande concentração de simpatizantes do presidente Michel Aoun.

Na noite deste domingo, milhares de pessoas ocuparam a Praça dos Mártires, no centro de Beirute, com cartazes e bandeiras, relatou uma repórter da AFP.

O inédito movimento foi provocado pela insatisfação frente a uma economia à beira do colapso e serviços públicos precários. Os protestos paralisam o país há quase duas semanas.

Gritos de “Revolução!” marcavam a marcha, acompanhada por música eletrônica e aplausos.

“O povo quer a queda do regime” e “Tudo significa tudo” eram algumas das palavras de ordem da multidão.

“Estamos unidos contra os líderes que nos conduziram durante 40 anos, mas que não mudaram nada neste país”, disse Abir Murad, de 37, procedente de Trípoli, a grande cidade do norte.

“Chegamos para dizer que a força da mudança está agora nas mãos do povo”, acrescentou.

Também houve manifestações de apoio nas cidades do sul, bastiões do Hezbollah, que se opõe ao movimento de protesto. “Tiro, Tiro, Tiro, é por você que nos rebelamos”, “Subúrbios, estamos com vocês até a morte”, gritavam os manifestantes.

Outros protestos foram realizados nas duas principais cidades costeiras do sul: Tiro, de maioria xiita, e Saida, com preponderância sunita, informou a agência de notícias libanesa.

– Presidente pede unidade –

Em Baabda, o presidente libanês, Michel Aoun, convocou milhares de eleitores, aos quais pediu unidade no apoio a seu programa de reformas.

A multidão se estendia ao longo de quase dois quilômetros, com bandeiras libanesas e estandartes laranjas como a cor da Corrente Patriótica Livre (CPL), o partido de Aoun. Alguns levavam retratos do presidente de 84 anos.

“Peço união a todo o mundo”, lançou Aoun, em um curto discurso dentro do palácio, transmitido em telões e pela televisão. Em sua mensagem, dirigida para seus seguidores e para a oposição, rejeitou que tivesse “uma manifestação contra outra manifestação”.

“Implementamos um plano” para lutar contra a corrupção, para acertar a economia e estabelecer um Estado civil, lembrou este general reformado, advertindo que não são mudanças fáceis de se materializar.

Os participantes denunciaram as manifestações antigoverno que, desde 17 de outubro, exigem a saída da atual classe política, com a renúncia de Aoun e a dissolução do Parlamento.

“O general Aoun é um homem reformista e sincero, não é corrupto nem ladrão, estamos aqui para dizer que estamos com ele”, declarou à AFP uma manifestante, Diana.

“Há corrupção no Estado há 30 anos. O presidente não é responsável, ele tenta combater a corrupção”, garantiu.

Com seus aliados, incluindo o poderoso movimento xiita do Hezbollah, a sigla de Aoun domina o Parlamento.

Nos últimos dias, bancos e escolas foram reabertos, e os bloqueios de estradas foram progressivamente levantados.

A contestação mobilizou milhares de libaneses em várias regiões e levou à renúncia do governo na terça-feira passada – que, no entanto, continua administrando os assuntos correntes.

Essa era uma das demandas dos manifestantes, que exigem uma nova equipe ministerial composta por tecnocratas.

No Líbano, mais de um quarto da população vivia abaixo da linha da pobreza em 2012, de acordo com o Banco Mundial (BM).