Dezenas de milhares de jovens protestaram em toda a Europa nesta sexta-feira (24), a dois dias das eleições europeias, para pedir mais ações contra as mudanças climáticas.

De Lisboa a Oslo, crianças e jovens deixaram de ir às aulas e foram às ruas para alertar sobre os riscos do aquecimento global, que provocaria o derretimento das calotas polares, grandes tempestades, inundações e secas.

Apenas da Alemanha, 320 mil pessoas se manifestaram em mais de 200 ações distintas, em cidades como Berlim, Hamburgo, Frankfurt e Leipzig, segundo o movimento “Sexta-feira pelo futuro”, que convocou os protestos.

“Vocês estão ficando sem desculpas, nós estamos ficando sem tempo”, afirmava um cartaz em Berlim, dirigida aos políticos.

Em Varsóvia, cerca de mil estudantes se concentraram na maior manifestação da cidade.

“Estamos todos no mesmo barco”, tinha escrito um manifestante em Madri com seu cartaz, expressando um sentimento compartilhado por jovens que se manifestaram em mais de 120 países.

Cerca de 15 manifestantes tomaram as ruas de Berlim, segundo os organizadores, em torno da Porta de Brandeburgo, gritando: “O que queremos? Justiça climática! Quando queremos? Agora!”.

“Agora o clima, os deveres depois!”, defendia um cartaz, enquanto outro lembrava que “Não há planeta B”.

A precursora dos protestos desta “Sexta-feira pelo futuro”, Greta Thunberg, uma sueca de 16 anos, falou em Estocolmo diante de cerca de 4.000 manifestantes.

“Teremos uma crise existencial se não reduzirmos à metade nossas emissões de CO2 em 20 anos”, declarou para a multidão.

“Vamos começar uma reação em cadeira fora de controle. O tempo está acabando”, alertou.

– ‘Faça amor, não CO2’ –

Outros movimentos de protesto começaram nos campos das universidades, mas as marchas desta “Sexta” tiveram origem entre estudantes, uma geração que cresceu com o alerta das mudanças climáticas, mas que assistiu poucas mudanças nas políticas ambientais.

“A mudança climática não pode ser contida em nossas fronteiras, um dia ou outro será irreversível”, declarou à AFP Aaron Langguth, de 21 anos, um estudante de comunicação presente na manifestação de Berlim.

Em Montpellier, no sul da França, vários jovens usavam apenas roupas íntimas, em uma alusão ao aumento das temperaturas, enquanto na Alemanha manifestantes gritavam “Faça amor, não CO2”.

Muitos partidos políticos tradicionais passaram a dar atenção às mudanças climáticas recentemente, tendo em vista as eleições europeias, e pesquisas do Eurobarômetro apontam que este é um dos assuntos que mais preocupam os eleitores da União Europeia, ao lado da economia e da migração.

Em uma marcha em Praga, os manifestantes pediram para os cidadãos a “votar pelo clima, não pelo dinheiro”.

Em Paris, onde 14.800 manifestantes se reuniram, segundo contagem independente do gabinete Occurence, cerca de 100 ativistas invadiram uma subprefeitura e arrancaram um retrato oficial do presidente Emmanuel Macron, proclamando que “temos que nos desfazer dos combustíveis fósseis”, e não mantê-los.

Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel teve que enfrentar a ira dos internautas por suas políticas ambientais, enquanto um grupo de estrelas do YouTube pediram para seus milhões de seguidores votarem contra os partidos da coalizão governamental.

“A destruição irreversível de nosso planeta não é, infelizmente, um cenário hipotético, mas o resultado previsível das políticas atuais”, disse um dos youtubers.

Com o Acordo de Paris sobre o clima, assinado em 2015 para limitar o aumento das temperaturas abaixo de 2ºC em relação aos níveis pré-industriais, os 28 países da UE se comprometeram a reduzir as emissões de gases do efeito estuda, pelo menos 40% até 2030, comparado com 1990.

Contudo, muitos cientistas e ambientalistas garantem que os países europeus e outras potências econômicas devem ser mais ambiciosos.

Em outubro, o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) da ONU alertou que as temperaturas globais se encaminham para aumentar 3ºC ou 4ºC.