Há um ano, a extensa mancha de óleo que havia pintado de preto mais de mil praias ao longo de 127 municípios de oito estados do Nodeste brasileiro chegava ao litoral baiano. Passados mais de 365 dias desde o início da contaminação, sem que a origem do desastre ambiental fosse conhecida, o Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) traz uma conclusão desanimadora: o ecossistema atingido não só não se recuperou, como sua condição está piorando. Ao analisar os impactos na Praia do Forte, Guarajuba, Ganipabu e Itacimirim, o levantamento mostrou que, em outubro de 2019, na fase aguda do vazamento, havia 88 espécies de organismos vivos a cada 35m2 de praia. Em julho deste ano, o número de espécies registradas caiu 83% na comparação com mesmo mês do ano passado. A quantidade de organismos vivos presentes nessas praias antes da chegada da mancha de óleo era de 446 invertebrados no mesmo espaço de areia. Em outubro de 2019, foi registrada uma diminuição de 65,9% no número de animais, redução que chegou a 83% no último mês de julho. Outro dado alarmante é o que se refere aos corais. Antes da contaminação pelo petróleo, a taxa anual de branqueamento desses organismos variava entre 5% e 6% desde 1995. Em outubro, chegou a 51%, em março de 2020 saltou para 76%,
em maio para 83% e hoje está em 88% .“Como a limpeza feita nessas áreas foi incompleta, o veneno continuou presente, matando a biodiversidade do litoral”, disse o professor Francisco Kelmo, diretor do Instituto de Biologia. Desde que não haja nenhum novo incidente, a estimativa é de que o hábitat, antes rico de fauna marinha, leve dez anos para se recuperar.

Evandro Rodrigues

 

(Nota publicada na edição 1191 da Revista Dinheiro)