Nos últimos dois anos, a academia de ginástica Runner tem seguido uma rigorosa dieta e praticado um austero programa de exercícios. A preparação ? que inclui a reestruturação da empresa, com a profissionalização da gestão, maior transparência, rigidez contábil e auditoria externa ? tem por objetivo final a adequação às regras da Bolsa de Valores de São Paulo para a inclusão no Novo Mercado. ?Dentro de mais um ano e pouco estaremos preparados para lançar ações?, afirma o presidente Maurício Quadrado, retirado dos quadros do Bradesco para dar credibilidade à operação financeira. Desde que assumiu o comando, em dezembro, o executivo já promoveu a abertura de capital da empresa e conseguiu convencer o Fundo Eagle, especializado em empresas emergentes com faturamento de até R$ 30 milhões ao ano, a investir R$ 7 milhões no negócio.

Para o sócio fundador Mário Sérgio Luz Moreira, 39 anos, a injeção de capital é a grande oportunidade para fortalecer a academia, criada por ele há 18 anos, quando ainda era um estudante de Economia. Seus planos não são nada modestos. Em cinco anos, pretende transformar as atuais nove unidades paulistanas em uma rede de mais de cem filiais, saltando de 25 mil para 250 mil alunos. Tudo dentro da organização, sem franquias. A empresa também espera aumentar o lucro com os chamados negócios periféricos. Além de incrementar as já existentes lojas de artigos esportivos e lanchonetes, a Runner está lançando um novo negócio para explorar o nicho de estética corporal e facial. Sob a consultoria da Ala Sherman e contando com investimentos de R$ 5 milhões em dois anos, o salão Beauty deverá estar presente em todas as unidades da rede. O primeiro será inaugurado em maio, no bairro de Moema, em São Paulo. ?O brasileiro é obcecado por estética e este mercado está em franca expansão?, diz Quadrado. “O Beauty vai tornar a empresa ainda mais atraente para os investidores.” As novidades não param aí. Até o fim do ano, será lançado um serviço virtual de personal training que irá fornecer programa de condicionamento físico e dieta pela Internet. Com uma mensalidade de R$ 20,00, a expectativa é atrair 100 mil associados no primeiro ano.

Dos R$ 7 milhões de investimentos previstos, o fundo Eagle conseguiu, em três meses, R$ 5 milhões. Os investidores estão de olho em um retorno de 20 a 25% ao ano a partir do segundo ano. ?Por ser um investimento novo, de risco, o retorno é acima da média do mercado?, afirma Antônio Carlos Romanoski, coordenador do fundo. Ele conta que houve uma certa dificuldade de explicar o negócio para os investidores, mas que estes foram atraídos pela expectativa de expansão do setor, estimada em 30% ao ano. ?Há muito recurso sobrando e faltam empresas estruturadas para receber?, diz Romanoski. Pesou também a experiência de Quadrado junto ao mercado financeiro. Ex-diretor de mercado de capitais do Bradesco, com 22 anos de carreira no banco paulista, participou de inúmeras privatizações e acompanhou a abertura de capital de algumas das maiores empresas brasileiras. Quadrado está feliz com a mudança. ?Fui atraído pelo desafio de ser presidente de uma empresa e pelas grandes perspectivas de crescimento?, afirma o executivo, cuja nova rotina de trabalho agora inclui sessões diárias de malhação.

Pioneira na introdução da moda de aeróbica no início dos anos 80, a Runner desfruta de uma liderança folgada num mercado pulverizado com mais de 3.500 academias. Tem quase o dobro do tamanho da principal concorrente, a Companhia Athletica. Novidade no Brasil, a profissionalização da gestão de academias é comum nos Estados Unidos. Lá, as grandes redes possuem capital aberto e contam com mais de 300 filiais. A líder 24Hour Fitness chega a faturar cerca de US$ 1 bilhão. ?Estudando o modelo americano, percebemos que tínhamos condições de buscar no mercado financeiro capital para viabilizar nosso crescimento?, afirma Moreira. O ritmo de crescimento da empresa é de tirar o fôlego. Desde 99, o faturamento cresce a uma média de 25% ao ano, taxa que deve ser mantida esse ano, alcançando o resultado de R$ 30 milhões. Para 2002, quando novos negócios estiverem em operação, a previsão é crescer mais 50%.