Aoperação começou sem grandes pretensões. Francisco Carpinelli, que fez carreira em turismo de negócios, decidiu abrir sua própria empresa em 1991, levando consigo apenas uma conta, do Unibanco, e duas secretárias. À frente, havia um mercado dominado por concorrentes tradicionais. Pois quem diria que hoje, 16 anos mais tarde, seu negócio, a Alatur Viagens e Turismo, seria a única brasileira entre as maiores agências de viagens corporativas do País, com uma cartela de 150 clientes, entre eles Santander, Camargo Corrêa, Alcan, Pepsico, BMW e McDonald?s. Fechou o ano passado com aumento de 65% no faturamento e 91% no volume de reservas para pernoites. Recentemente, a Alatur tirou da líder mundial do setor, a norte-americana Carlson Wagonlit, a conta da L?Oréal. E, acredite ou não, o que pesou na decisão foi o ?jeitinho brasileiro? da empresa. Explica-se: ?Os franceses identificaram na brasileira Alatur empreendedorismo, criatividade e a busca por inovações tecnológicas, algo que faltava na latente Carlson?, diz uma fonte do mercado. ?Os sócios são de fácil acesso, atuam rapidamente em crise.?

Em alta R$ 16 bilhões é quanto movimenta o setor de viagens corporativas no Brasil

Ao lado de Carpinelli está o homem que comandou a mais recente deslanchada da empresa, o sócio Ricardo Ferreira. Com passagem pelos grupos Sheraton e Thomas Cook, Ferreira acaba de se tornar o primeiro brasileiro eleito para o comitê mundial da ACTE (Association of Corporate Travel Executives), uma das principais organizações globais de turismo corporativo. ?Quando as multinacionais do setor chegaram ao Brasil, em 1997, limitaram-se à gestão de despesas de viagem, com uma abordagem fria, objetiva e tecnológica. Mas viagem é uma coisa que causa estresse e as pessoas querem alguém que entenda isso e que resolva problemas?, avalia o executivo. São clientes que gastam até R$ 40 milhões por ano em viagens. Esperam, portanto, plantão 24 horas, serviço de aeroporto e iniciativa. ?No nosso ramo, a empresa tem que ser voltada para o relacionamento com o cliente?, continua. Esse diferencial é tudo num mercado pulverizado como o de viagens corporativas.

A íder Carlson Wagonlit tem apenas 1,8% de participação nos R$ 16 bilhões que o setor movimenta anualmente. ?Não há como ser médio nesse negócio. Se a empresa é grande, tem escala. Se é pequena, tem foco e competência?, aponta um consultor.

A Alatur não é comercialmente agressiva. Não faz publicidade e não tem os melhores preços do mercado. Como, então, sobrevive e cresce com índices chineses? ?Temos o mais alto índice de retenção de contas do mercado?, explica Marcos Balsamão, que completa a tríade societária. ?É raro perdemos clientes. Expandimos o negócio com a indicação deles.? A agência também fecha contratos para administrar carteiras de concorrentes de médio porte, que não têm escala suficiente para ser rentáveis. Nem tudo são flores no negócio. A crise nos aeroportos, que no último ano provocou perdas de R$ 3 bilhões ao País, gerou reflexos diretos no turismo de eventos. ?As pessoas passaram a pensar duas vezes antes de se deslocar. Foi o caso de participantes de eventos por adesão?, lembra Simone Saccoman, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Eventos (Abeoc). A Alatur foi atingida em cheio pelo turbilhão. ?Depois do acidente em Congonhas, a gente parou. Isso nunca havia acontecido. Teve cliente fazendo circular pedindo para os funcionários não viajarem?, conta Ferreira. A empresa driblou a crise vendendo passagens de ônibus. A solução foi tão certeira, que hoje já existem contratos fixos com os grupos de transporte rodoviário. É o início de um novo salto da Alatur.