Levante a mão quem não quer fazer parte de um mercado que apenas no ano passado cresceu 26% em número de consumidores e soma 1,1 bilhão de assinantes. É nesse oceano azul que deve ser lida a fusão da WarnerMedia, que pertence ao grupo de telecom AT&T, com a Discovery, anunciada na segunda-feira (17). A nova plataforma atuará sob um nome ainda não divulgado e tem valor de mercado estimado em US$ 150 bilhões. Como diferencial, a oferta de conteúdos sob grifes como Animal Planet, CNN, Cartoon Network, DC, Food Network, HBO e TNT. John Stankey, CEO da AT&T, já disse que eles vão abusar do legado de quase 100 anos dessas marcas. “O acordo une dois líderes de entretenimento com forças de conteúdo complementar”, afirmou em comunicado. “Criaremos eficiências que podem ser reinvestidas na produção de mais conteúdo excelente”. David Zaslav, atual CEO da Discovery, vai presidir a nova empresa.

Pelo acordo, que aguarda a aprovação dos acionistas e órgãos reguladores, a AT&T receberia US$ 43 bilhões entre dinheiro, e títulos e retenção de dívidas pela WarnerMedia. Os acionistas da operadora de telefonia deteriam 79% da nova empresa. Já os acionistas da Discovery receberiam 29% das ações. As empresas, juntas, somaram US$ 41 bilhões de faturamento em 2020. Com a conclusão da transação esperada para o ano que vem, a projeção é que esse valor salte para US$ 52 bilhões em 2023.

Mas a chegada de mais uma plataforma no mercado divide a opinião de especialistas. Para alguns, essa competitividade é positiva para o consumidor. É o pensamento de Lilian Prado, gerente da Smartclip no Brasil. “A entrada de novos players, pode fazer com que as plataformas repensem os preços”, afirmou. Para Carolina Vargas, CEO da Stenna, o surgimento de tantas plataformas sobrecarrega o setor de streaming. “As operadoras oferecem planos de televisão com internet, que sempre será a prioridade do consumidor”, disse Carolina. “As plataformas de streaming chegam ao Brasil com um valor muito alto e, quando é feita a conta, pode ser que o consumidor volte atrás”. Essa é também a opinião de Roberto Camargo, CEO da URL Business. “O streaming não barateou nada”, afirmou.

Mas por ora os números ainda dizem outra coisa. O plano mais barato da Netflix sai por R$ 21,90 por mês. No Amazon Prime, a assinatura é fixa em R$ 9,90 mensais e dá direito à frete grátis nas compras pelo site da Amazon. O assinante do Disney+ desembolsa R$ 27,90 por mês. A somatória deles custaria menos de R$ 60 por mês ao consumidor. Os pacotes de televisão e internet mais básicos da Claro e da Vivo para a cidade de São Paulo custam, respectivamente, R$ 149,98 e R$ 209,98. Dá pra entender por que o mercado de TV a cabo está sofrendo com o crescimento do mercado de streaming.

Globalmente, o mercado só cresce. Relatório anual divulgado pela Motion Pictures Association (MPA) mostra que 232 milhões de novas contas foram criadas durante a pandemia – aumento de 26% no comparativo anual –, totalizando 1,1 bilhão de assinaturas em 2020, um recorde. Mesmo no Brasil a adesão é óbvia. O período colocou o País em destaque em relação ao consumo de vídeo. Levantamento realizado pelo Kantar Ibope Media mostra que 58% dos usuários de internet viram mais vídeo e TV por streaming pago durante os períodos de isolamento. Em média, cada usuário passa quase duas horas por dia assistindo a conteúdos pagos.

CRESCIMENTO Essa alta no consumo já era prevista pelas empresas, mesmo sem o advento da pandemia. Tanto AT&T quanto Discovery já atuavam no setor. Após comprar o Time Warner em 2018, por US$ 85 bilhões, a operadora americana criou, por meio da WarnerMedia, o HBO Max. A plataforma possui 44 milhões de assinantes globais e chega ao Brasil em junho. Na outra ponta, o Discovery+, lançado nos Estados Unidos em janeiro deste ano, é a aposta para conteúdos diversificados, já reconhecidos pelo canal. Em cinco meses de operação, a plataforma acumula 15 milhões de assinantes, em sua maioria do aplicativo Discovery+. O diferencial esperado pelos especialistas é na aposta por conteúdo próprio. A empresa já nasce com investimento de US$ 20 bilhões em conteúdo, contra US$ 17 bilhões da Netflix e cerca de US$ 16 bilhões da Disney+ até 2024.

De olho na valorização dos conteúdos próprios, a Amazon estaria negociando a aquisição do estúdio americano Metro Goldwyn Mayer (MGM), segundo o portal americano The Information. A negociação adicionaria 4 mil novos títulos no catálogo do Amazon Prime Vídeo, entre eles títulos como James Bond, The Voice e Shark Tank. Segundo o portal, o acordo pode chegar a US$ 9 bilhões. Pipocas a postos porque, ao que tudo indica, essa batalha está apenas começando.