Há pouco mais de 14 anos, as imagens do Airbus A320da TAM cruzando a pista do aeroporto de Congonhas antes de ser chocar com o prédio da própria companhia na avenida Washington Luis, em São Paulo, rodaram o mundo. O acidente com o voo JJ 3054, proveniente de Porto Alegre, tornou-se o mais grave da aviação comercial brasileira, com 199 mortos – 187 pessoas a bordo, além de outras 12 em solo. Desde então, medidas de segurança foram adotadas no setor, para tentar evitar ou ao menos minimizar a gravidade de outras possíveis ocorrências. A mais recente delas é a instalação de áreas de escape em Congonhas, o terceiro aeroporto mais movimentado do País, atrás apenas de Brasília, o vice-líder, e de Cumbica, em Guarulhos. As obras tiveram início em fevereiro e já ultrapassaram 51% de execução. O Ministério da Infraestrutura pretende entregar o sistema emergencial de frenagem de aviões em março de 2022, ao custo de R$ 122,5 milhões.

A tecnologia Emas (Engineereed Material Arresting System) – sistema de materiais de engenharia para detenção de aeronaves, em português – consiste em uma estrutura formada por blocos de concreto que se deformam e ajudam a desacelerar uma aeronave que avançar o limite final da pista. O método já é utilizado em aeroportos na Europa, Ásia e nos Estados Unidos, especialmente onde não existe espaço suficiente para uma área de segurança de fim de pista, conhecida como Runway Safety Area. Congonhas é dos mais críticos nesse sentido. A proposta do sistema é similar às das áreas de escape implantadas em algumas rodovias para utilização de veículos com falhas nos freios.

O aeroporto da Zona Sul de São Paulo será o primeiro da América Latina a ter o sistema, que suportará velocidade de até 50 nós (cerca de 90 km/h). Um dos benefícios do modelo é oferecer segurança sem causar grandes avarias nos aviões, que normalmente podem voltar às atividades após reparos. Congonhas já havia recebido algumas melhorias recentemente. No ano passado, foi recuperado o asfalto da pista principal, que recebeu camada porosa de atrito, o que aumentou a aderência dos jatos e pôs fim ao problema de aquaplanagem. A obra custou R$ 11,5 milhões.

INTERVENÇÕES Projeto vai exigir obras complementares no entorno da pista do aeroporto de Congonhas. (Crédito:Divulgação)

Ao término das intervenções coordenadas pela Infraero, a pista principal de Congonhas terá duas novas áreas de escape – uma de 70m x 45m na cabeceira 17R e outra de 75m x 45m na cabeceira 35L. As duas estruturas serão sustentadas por pilares e vigas capazes de suportar o peso das aeronaves. O projeto prevê ainda obras complementares nas pistas de taxiamento nas regiões próximas ao Emas. “Há harmonia entre a execução das obras e a operação do aeroporto”, disse Tarcísio Gomes de Freitas, ministro de Infraestrutura. O que significa que elas não prejudicaram o movimento.

ESSENCIAL Apesar de a iniciativa do governo federal ter demorado, tendo em vista que o acidente da TAM ocorreu em 17 de julho de 2007, a construção das áreas de escape em Congonhas é elogiada por Paulo Nicatti. Com 37 anos de carreira, o comandante acredita que a implantação da tecnologia Emas é essencial. “É uma decisão muito importante, já adotada em várias partes do mundo e que vai trazer mais segurança para as operações.” Ele afirmou que após o acidente com o avião da TAM, as companhias, sob recomendação do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), passaram a atuar em Congonhas com redução virtual da pista. “Você tem 1.800 metros [são 1.940], mas corta 200m. Decola como se ela tivesse 1.600m, para deixar uma área livre”, disse. A decisão limitou o peso máximo da aeronave tanto para decolagem como para pouso no aeroporto.

Com experiência de oito anos na ponte aérea Rio-São Paulo, à época da tragédia no comando de aviões da Gol, Nicatti cobra a adoção do Emas no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, ao destacar que a rota entre as duas capitais é a segunda mais movimentada da América Latina – atrás apenas de Bogotá –Medellín, na Colômbia. O equipamento para o terminal carioca passará por concessão em 2022. “A situação do Santos Dumont é mais crítica em relação a São Paulo por estar situado em uma área de proteção ambiental”, afirmou ele, ao destacar que, no Brasil, os aeroportos de Ilhéus (BA), Porto Seguro (BA), Joinville (SC) e Navegantes (SC) também não possuem área de escape.