Uma das principais deficiências do mercado de capitais brasileiro é a falta de instrumentos financeiros para a montagem de estratégias diversificadas. A panóplia à disposição dos profissionais que administram dinheiro e dos investidores mais ativos inclui, resumidamente, possibilidades de apostar na baixa ou na alta dos juros e das taxas de câmbio e, em menor escala, fazer o mesmo com o Índice Bovespa. Assumir posições de prazo mais longo no mercado de juros, ou tentar ganhar com a volatilidade de outras moedas que não o dólar, esbarra em vários entraves. Entre eles, a liquidez reduzida e a necessidade de estruturar operações com várias etapas, o que eleva os riscos de execução. A B3, que detém o virtual monopólio das operações com ações e derivativos no País, quer mudar essa situação. No próximo dia 10 de dezembro, a companhia deverá iniciar os negócios com cinco novos produtos destinados a proporcionar mais flexibilidade aos investidores e a facilitar o acesso a estratégias mais diversificadas de investimento (observe o quadro ao final da reportagem).

Um bom exemplo da mudança são os contratos futuros de ações. Atualmente, há apenas os de Índice Bovespa. É o terceiro mercado mais líquido desses derivativos, perdendo apenas para os juros e para o dólar. A partir de dezembro, haverá contratos futuros de ações de 12 empresas, entre elas Petrobras, Vale, Cemig, Pão de Açúcar, além dos papéis da própria Bolsa. “A vinda dos novos contratos vai aumentar a participação dos investidores individuais no mercado”, diz Marcos Antonio Skistymas Filho, superintendente de produtos listados da B3. Para ele, esse novo produto permitirá que investidores individuais desfrutem de estratégias que, por enquanto, estão restritas aos grandes participantes do mercado. É o caso do aluguel de ações, em que o possuidor de papéis pode alugá-los a outro investidor que desejar especular com eles.

Marcos Antonio Skistymas Filho, superintendente de produtos listados da B3: “A vinda dos novos contratos vai aumentar a participação dos investidores individuais no mercado ”

Ao oferecer suas ações em aluguel, o acionista consegue obter uma rentabilidade adicional sem precisar vender suas posições. “Essa alternativa é oferecida no mercado de balcão, acessível a poucos, mas nossa meta é tornar o aluguel algo mais popular”, diz Skistymas. O valor será deliberadamente pequeno. A cada contrato corresponderá uma ação, e as compras e vendas serão feitas com lotes de 100, exatamente como ocorre no mercado a vista. A liquidação será apenas financeira, sem a entrega das ações no vencimento do contrato. Internacionalizar as estratégias de investimento também ficará mais fácil. A B3 vai lançar contratos futuros de 15 moedas, entre elas ienes, francos suíços e dólares australianos em comparação com o dólar americano. Atualmente, essas moedas são negociadas em comparação com o real, mas a liquidez é muito baixa: dólares e euros concentram quase 97% das operações.

Outro exemplo são as opções de contratos futuros de juros. Esses contratos, os mais negociados no mercado futuro, permitem aos investidores se proteger das oscilações das taxas ou, na outra ponta do negócio, tentar ganhar dinheiro especulando com a volatilidade dos percentuais. É um mercado grande, e por enquanto restrito aos profissionais. Cada contrato vale R$ 100 mil e, em junho deste ano, dados mais recentes disponíveis, 55% dos negócios foram realizados por bancos e gestores de fundos. Os 46% restantes foram responsabilidade de investidores internacionais. Skistymas diz que as opções deverão permitir a montagem de posições de prazo mais longo e reduzir os riscos operacionais. “Os gestores de fundos demonstraram estar muito interessados no produto”, afirma.