Em uma “tempestade perfeita”, circunstâncias adversas se combinam para produzir o pior cenário possível. Na opinião do publicitário e colunista da IstoÉ Mentor Neto, foi isso o que ocorreu com o uso indiscrimando das ferramentas criadas no ambiente digital para influenciar pessoas e promover marcas e produtos. Nos últimos anos, essa invasão de privacidade teve consequências como o depoimento de Mark Zuckerberg no Congresso dos EUA sobre o uso comercial de dados dos usuários do Facebook, o escândalo da empresa Cambridge Analytica sobre a votação do Brexit no Reino Unido, o uso de robôs nas eleições de Donald Trump e de Bolsonaro. O que veio a seguir, contudo, foi um posicionamento mais transparente de empresas e clientes. No Brasil, um exemplo é a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que desde o ano passado normatiza o uso de “data science” dando o primeiro passo para criar uma ética quanto à privacidade e o uso de informações para publicidade.

Foi essa tempestade que motivou Mentor Neto a criar sua nova agência. “Eu decidi sair da Bullet depois de 30 anos para um voo solo porque esse é o futuro do nosso mercado”, afirmou. “A gente tem um banco de dados com 2,5 milhões de consumidores sensíveis a promoção, porque já participaram de alguma e entenderam os benefîcios”. Segundo ele, embora a indústria da propaganda já seja autorregulamentada desde a criação do Conar, do qual é conselheiro, havia a desconfiança de parte dos consumidores quanto a idoneidade de algumas promoções, que pareciam prometer muito mais do que eram capazes de entregar. “Com os escândalos envolvendo o uso de dados nos últimos tempos, foi criado um preconceito para ativar promoções no meio digital. Faz parte dos desafios da Spinoff mostrar que é possível engajar o consumidor com respeito, ética e dentro da lei”.

BAIXO CUSTO Segundo Neto, as mudanças de hábito forçadas pela pandemia deixaram o consumidor mais aberto a benefícios como descontos e chashback. “Uma ação com a minha base dá, em média, 48% mais engajamento que quando usamos só o recorte demográfico do Facebook”. Com uma estrutura bem menor que o das agências tradicionais (são apenas 10 funcionários), a Spinoff está com projetos para quatro clientes, nas áreas de tecnologia, mercado imobiliário, cosméticos e influência digital. “Vamos trabalhar de um jeito novo, bem mais leve”, afirmou.