Mais de 600 prisões foram ordenadas nos últimos oito meses na Venezuela por “especulação” no mercado cambial, informou nesta quinta-feira (8) o procurador-geral, Tarek William Saab.

Apesar da revogação, em agosto passado, de uma lei que punia com até 15 anos de prisão para quem negociar divisas fora do rígido controle cambial, Saab anunciou que a Procuradoria emitiu 70 novas ordens de prisão por “remessas ilegais”.

Essas medidas elevaram para 621 as ordens de prisão desde o final de março, acrescentou.

O procurador informou que 255 pessoas foram apresentadas aos tribunais e que mais de 3.000 contas bancárias foram bloqueadas.

Desde a sua entrada em vigor em 2003, o controle cambial deu ao governo socialista o monopólio das divisas, em paralelo ao qual surgiu um mercado negro com cotações que chegaram a multiplicar por 30 as taxas oficiais. Hoje, elas são o quádruplo.

As 70 pessoas acusadas nesta quinta-feira, por delitos como lavagem de dinheiro foram vinculadas por Saab com casas de câmbio “ilegais” em uma dezena de países, a maioria na Colômbia e nos Estados Unidos, “dedicadas a atacar” a moeda local: o bolívar.

Ao implementar um reformado sistema cambial que desvalorizou a moeda em 96%, em um plano lançado em agosto diante da grave crise econômica, o vice-presidente Tareck El Aissami disse que a derrogação da Lei de Ilícitos Cambiários autorizava entes privados a negociar “livremente” divisas após 15 anos de proibição.

As ações contra o mercado paralelo continuam.

Segundo o procurador, pelas transações ilegais deixam de “entrar na economia formal” entre 150 e 200 milhões de dólares mensais.

A ONU estima que 2,3 milhões de venezuelanos emigraram desde 2015 fugindo da crise.

Mais de 1 bilhão de dólares foram enviados por esses migrantes no primeiro semestre de 2018, a grande maioria por canais informais, garante a empresa privada Ecoanalítica.

Economistas consideram que o governo busca captar essas divisas diante da queda da produção de petróleo, de 3,2 milhões para 1,4 milhões de barris diários em uma década, e as restrições de financiamento por sanções financeiras dos Estados Unidos.