O confinamento no estado de Nova York termina nesta sexta-feira (15), depois de dois meses. Mas não na Big Apple, que já foi o epicentro da efervescência econômica e cultural e hoje é o foco da pandemia de coronavírus, que se resigna a um futuro incerto.

Várias empresas não essenciais reabrirão suas portas no resto do estado, mas na cidade de Nova York, de 8,6 milhões de habitantes e com mais de 20.000 mortos pelo vírus, as autoridades temem um novo aumento de casos e pedem cautela.

+ Enquanto Nova York fecha hospital de campanha, outro é aberto em Washington
+ Criança de 5 anos morre em Nova York por doença possivelmente ligada ao coronavírus 

“Prolongar o confinamento é a decisão certa. Realmente é péssimo, mas não há escolha. Estamos tentando dar o nosso melhor”, diz à AFP Shelby, uma corretora de Nova York de 40 anos que se recusou a dar seu sobrenome.

Em isolamento, “fico entediada como uma ostra”, reclama Rhonda Glass, de 80 anos, que até a pandemia era voluntária de várias instituições de caridade. “Só espero que em breve possamos voltar a uma certa normalidade”.

Mas o prefeito Bill de Blasio disse que é impossível tomar uma decisão antes de junho.

Ele já anunciou que as piscinas não abrirão neste verão na megalópole, e talvez nem as praias.

As escolas permanecerão fechadas até o início do novo ano escolar em setembro, pelo menos.

As autoridades investigam 110 casos no estado de crianças e jovens com uma síndrome hiperinflamatória grave, possivelmente ligada ao coronavírus, que já causou três mortes.

Jantar fora, ir a um bar, a um museu, a um teatro da Broadway, ou a um jogo de beisebol… Tudo o que representa Nova York e implica uma aglomeração de pessoas seguirá fechado.

“Temos que ser inteligentes”, insiste o governador Andrew Cuomo. “Não devemos minimizar o vírus; ele nos derrotou várias vezes”, disse na quinta-feira.

– “Fantasmas ambulantes” –

 

Delia Chávez, uma babá equatoriana de 60 anos, concorda que o confinamento deve continuar em Nova York, “porque nenhum dinheiro no mundo compra vida ou saúde”.

“Perdemos a liberdade, a calma, perdemos financeiramente, emocionalmente. Somos fantasmas ambulantes, com nossas máscaras, luvas e roupas de proteção”, diz tristemente essa mulher que parou de trabalhar há dois meses devido à pandemia e que agora voltou a cuidar de uma menina.

Seus chefes enviam um carro para buscá-la em casa todas as manhãs, para evitar contágio no metrô.

Os hispânicos e afro-americanos, muitos dos quais de baixa renda, com doenças crônicas anteriores e que vivem em apartamentos pequenos e sem seguro de saúde, têm a maior taxa de mortalidade devido à COVID-19 em Nova York, quase o dobro que a população branca.

Todos os dias, às 19h, a cidade se une para aplausos em homenagem aos médicos e enfermeiros que lutam contra a pandemia.

“Isso uniu os nova-iorquinos”, reflete Shelby, a corretora.

No total, a doença matou mais de 27.000 habitantes do estado, com 19,6 milhões de habitantes.

No auge da pandemia, em 9 de abril, 799 pessoas morreram no estado de Nova York em 24 horas. O número caiu para menos de 160 esta semana.

E nesta sexta-feira, várias regiões que atendem a uma série de critérios começaram a reabrir a indústria e a construção.

Na cidade de Nova York, com a chegada do bom tempo e após dois meses de confinamento, há mais pessoas nas ruas e parques.

“Algumas semanas atrás eu tinha as ruas só para mim, era mais seguro trabalhar fora do que em um escritório”, diz o carteiro Denzel Charles, de 59 anos. “Agora há multidões nas ruas”.

Outros, como Hans Robert, executivo de 49 anos, decidiram deixar a Big Apple, onde vivia há 10 anos.

Robert se estabeleceu com sua família em sua casa de campo nas montanhas Catskills, a duas horas de distância, de onde todos podem trabalhar ou estudar on-line.

O aluguel mensal de US$ 7.000 do apartamento em Manhattan “vale a pena quando a cidade funciona”, explica. “Quando não funciona, é um imposto por nada.”