No último episódio… ou melhor, em meu artigo publicado na sexta-feira (20) e que você pode ler clicando aqui, elenquei cinco provas de que o Brasil vive uma relação tóxica com o presidente Jair Bolsonaro. Minha teoria foi baseada nos livros da psicóloga norte-americana Ginnie Love Thompson. Mas há outras razões para confirmar que esse relacionamento é não apenas tóxico como altamente destrutivo para os brasileiros. Eis aqui mais cinco razões que compravam essa tese:

  • Bolsonaro não se lembra das necessidades do Brasil

Não é uma exigência do cargo de presidente da República saber de todas as mazelas do País, mas para isso existe a composição de um seleto grupo de ministros, escolhidos a dedo, para lembrar a Bolsonaro quais são os reais problemas do Brasil com quem se relaciona. Mas uma característica de um relacionamento tóxico é que a vítima sempre sabe o que o abusador está fazendo (quando ele quer que ela saiba), mas ele se importa pouco em saber o que a vítima faz. Essa falta de empatia é mascarada com argumentos como “não tenho tempo para ler isso”, “eu não posso fazer nada”, “eu não sabia” e o clássico “não há o que fazer agora”, todas frases, inclusive já ditas pelo presidente.

  • Bolsonaro tem mania de perseguição

Convenhamos, é impossível pensar no Bolsonaro sem lembrar da extensa lista de pessoas que (segundo ele próprio) o perseguem. Desde o atentado da facada o argumento da perseguição virou arma política. E esse comportamento é um clássico nos relacionamentos abusivos. Aquela amiga que diz que talvez Brasil  deva mudar de caminho? Ela é uma infiltrada de esquerda que quer transformar o País na Venezuela. O seu familiar que pergunta se o Brasil não está gastando demais? É um espião de direita que quer derrubar o presidente. O colega de trabalho que questiona a falta de investigação do presidente? É membro da ditadura da toga disfarçado. Quantas dessas coisas informações são verdadeiras? Nenhuma, mas o importante é o efeito na vítima.

  • Bolsonaro é supercompetitivo

Ser competitivo é parte do jogo político. Você precisa vencer seus adversários para se eleger. Você precisa ter números melhores que seu antecessor para tentar se reeleger. E tudo bem. O problema no relacionamento tóxico é que o abusador trapaceia para obter vitórias fictícias. E informação distorcida é uma das grandes marcas deste governo. Bolsonaro disse que se o PIB do Brasil caiu 4% ano passado, e crescerá 5% neste ano, haverá um crescimento de 9%. Essa conta não é apenas um erro, é uma forma pensada de contar vantagem. Quando o governo diz que o Brasil é o país com mais casos de “recuperados da Covid” e esconde que essa proporção só existe porque somos também o de maior contágio, ele trapaceia em busca de uma vitória fictícia. Maquiavel escreve em O Príncipe que um o líder precisa ter a força do leão e a astúcia ardilosa da raposa, leia-se a capacidade de distorcer a realidade.

  • Você não se identifica com os amigos dele

O meio social diz muito sobre a pessoa, e quando temos dificuldade de lidar com familiares e amigos próximos é preciso entender o motivo. Em geral, pessoas abusivas em relacionamentos tóxicos se aproximam de outras pessoas com características similares. Principalmente em rodas de convívio social.  Uma boa forma de identificar que há um relacionamento abusivo é reconhecer nos amigos do abusador características similares. Temos mais facilidade de interpretar sinais amarelos em pessoas que não desenvolvemos uma relação afetuosa.

  • Você sempre tem uma desculpa para o comportamento dele

“Não é possível que ele seja assim”, “isso só pode ser um personagem”, “ele fala da boca para fora”, “ele não teria coragem…” . Se você é brasileiro e nenhuma dessas frases passou pela sua cabeça nos últimos dois anos e meio, possivelmente você não andou lendo muito o noticiário. Acredite, esses pensamentos todos são típicos de quem tenta se conformar em um relacionamento abusivo. Essa tentativa de justificar o outro é uma reação psicológica natural para evitar encarar o problema.

Você quer mesmo continuar nessa relação? Lembre-se: tendemos a repetir padrões na hora de entrar em um novo relacionamento. A eleição de 2022 está logo ali. O primeiro passo, depois de reconhecer que está em um relacionamento abusivo e sair dele, é traçar suas expectativas. No caso da escolha de um presidente, é ainda mais fácil e menos subjetivo. Se você gosta liberal, procure candidatos que possuam projetos econômicos que te agradam. Se você se identifica com pautas sociais, veja quem aborda este assunto. Se sua bandeira é a defesa do meio ambiente, tenho certeza que alguém irá atender suas expectativas. Se você defende pautas de segurança, com certeza algum candidato terá um perfil que te agrade. Mas, principalmente, não tenha medo de conhecer outras pessoas. Não tenha medo de mudar. Você – e o Brasil todo – merece ser melhor tratado.

Venezuela, PIB, falta de empatia, eleição 2022