A hidroxicloroquina perdeu seu principal defensor. Em uma carta publicada no site do Centro Nacional de Informações sobre Biotecnologia, na França, a equipe do professor Didier Raoult admitiu que o medicamento antimalárico não reduziu a mortalidade de Covid-19. Conclusão a que a OMS já havia chegado há seis meses, justificando na época o fim de todos os ensaios clínicos em andamento.

O médico relembra seu estudo realizado em março passado em 42 pacientes, em que parte foi tratado com cloroquina e outra parte não. “A transferência para a terapia intensiva e a morte não diferiram significativamente entre os grupos”, escreve a equipe do professor de Marselha em sua nova nota.

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Alguns de seus detratores queriam ver essa frase como uma admissão de fracasso. Como o epidemiologista Thibault Fiolet da Universidade de Paris-Saclay que, em um tweet amplamente divulgado ao longo do fim de semana, exclamou: “Incrível! O professor Raoult, que escreve ele mesmo, que seu primeiro ensaio clínico não randomizado (pacientes escolhidos por sorteio) mostra que a hidroxicloroquina NÃO tem eficácia na mortalidade ou na redução da transferência para a terapia intensiva.

O uso da droga em grande parte extrapolou o campo científico para se tornar objeto de um debate político em todo o mundo que divide a opinião pública, gerando confrontos violentos, principalmente nas redes sociais.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governo brasileiro vêm incentivando o uso da hidroxicloroquina e da azitromicina como “tratamento precoce” contra a Covid-19. Na semana passada, o Ministério da Saúde lançou um aplicativo no qual incentiva o uso das medicações que não têm eficácia comprovada.

No último sábado, o Twitter chegou a indicar que uma publicação da pasta possui “informações enganosas e potencialmente prejudiciais relacionadas à covid-19”. O conteúdo foi ocultado pela plataforma. No domingo, os pareceres e votos pela aprovação das vacinas Coronavac e de Oxford também refutaram o uso das substâncias e a existência de um “tratamento precoce” baseado em medicamentos comprovadamente ineficazes, como a hidroxicloroquina.