Nem petróleo, nem máquinas. O grande vilão da balança comercial brasileira é a importação de componentes eletroeletrônicos. São eles os principais responsáveis pelo déficit do setor de US$ 7,5 bilhões registrado em 2000, aumento de 11% em comparação ao ano anterior. ?É preciso começar a produzir aqui para não dependermos tanto das importações?, alerta o presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria de Eletroeletrônicos), Benjamim Funari Neto. A indústria está apreensiva, mas conta com um poderoso aliado, o governo, interessado em melhorar os números do comércio exterior. O BNDES criou uma linha de financiamento para quem adquirir componentes de fabricantes locais. Além disso, vai inaugurar o Fórum de Competitividade do setor, cujo objetivo será indicar caminhos para o aumento de eficiência das empresas. De todo o modo, qualquer previsão sobre o futuro passará pela definição de uma política para o setor, que inclui a aprovação da nova Lei de Informática.

 

Isso não tem impedido, porém, que empresas como a Motorola e a Compaq corram atrás de fornecedores que possam produzir seus componentes por aqui. ?Se tiver preço, qualidade e flexibilidade para um atendimento rápido, é claro que preferimos parceiros locais?, afirma Hugo Valério, diretor de relações governamentais da Compaq. Há cerca de um mês, a Motorola reuniu mais de 50 fornecedores para convencê-los da necessidade de nacionalizar a produção. Algumas companhias planejam investir por conta própria na fabricação dos componentes. É o caso da coreana LG. Seguno seu presidente, Un Chul Hwang, depois da inauguração de uma fábrica de ar-condicionado, em 2001, o próximo passo será uma unidade de produção de componentes. Atualmente as importações da LG chegam a US$ 200 milhões por ano e logo no primeiro ano de funcionamento da nova unidade esse valor deverá cair para US$ 150 milhões.

É por causa da substituição de importação que os fornecedores de componentes fazem planos para crescer. Em 2000, o faturamento nesse segmento foi de R$ 4,5 bilhões, um crescimento de 13% em relação ao ano anterior. Para 2001, prevê a Abinee, as vendas deverão chegar a R$ 5,4 bilhões. Na Icotron, que produz capacitores para as indústrias de telecomunicações e informática, calcula-se que 10% do faturamento de 2001 terá como destino a própria empresa. ?Já estamos com mais de 80% da nossa capacidade ocupada e os investimentos serão imprescindíveis?, diz o diretor Francisco Rosa. Já Pio Gavazi, diretor da Micromurtek, um dos maiores fabricantes de circuitos impressos do País, calcula que seu faturamento deverá aumentar em pelo menos 20% em 2001. Ou seja, o crescimento das vendas de eletroeletrônicos será inevitável. Mas sem uma política para o setor, restará aquela sensação de que 2001 poderia ser ainda melhor.