Emmanuel Macron e Joe Biden se comprometeram, nesta quarta-feira (22), durante uma conversa por telefone, restaurar a confiança entre a França e os Estados Unidos após a crise dos submarinos australianos, que poderia ter sido evitada com “consultas abertas” prévias, de acordo com um comunicado conjunto do Eliseu e da Câmara Branca.

“Consultas abertas entre aliados sobre questões de interesse estratégico para a França e os parceiros europeus poderiam ter evitado esta situação. O presidente Biden expressou seu compromisso permanente com esta questão”, diz a nota.

Paris chegou a acusar Biden de se comportar como seu antecessor Donald Trump, na mais séria crise diplomática entre os Estados Unidos e a França desde o “não” francês à guerra do Iraque em 2003.

Os dois chefes de Estado se encontrarão “na Europa no final de outubro”, onde está prevista a participação do presidente dos EUA na cúpula do G20 em Roma nos dias 30 e 31 e em seguida na COP-26 em Glasgow, no início de novembro.

Até lá, eles decidiram lançar “um processo de consulta aprofundada com o objetivo de estabelecer as condições para garantir a confiança e propor medidas concretas para a concretização dos objetivos comuns”.

Nesse contexto de apaziguamento, o embaixador da França nos Estados Unidos, Philippe Etienne, retornará a Washington “na próxima semana”, decidiu Macron.

Paris havia anunciado na sexta-feira a retirada dos embaixadores nos Estados Unidos e na Austrália, uma decisão inédita com dois aliados históricos, após o cancelamento de um mega-contrato de submarinos franceses a serem adquiridos pela Austrália.

“As mensagens são boas”, com o reconhecimento de que deveria ter ocorrido “uma comunicação melhor”, comentou Benjamin Haddad, diretor europeu do think tank Atlantic Council.

“Os americanos entenderam que o principal choque em Paris não foi tanto o aspecto comercial, mas mais a quebra de confiança”, acrescentou, alertando que “nem tudo se supera da noite para o dia com uma conversa”.

– “Importância estratégica” –

Com tom comedido e consensual, em contraste com as trocas dos últimos dias, o comunicado conjunto reitera que “o compromisso da França e da União Europeia na região Indo-Pacífico é de importância estratégica”.

Em visita a Washington, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson também disse que a aliança AUKUS “não é exclusiva” e que “não tenta excluir ninguém”.

Biden também adotou um tom conciliador na conversa com Macron, destacando que é “necessário que a defesa europeia seja mais forte e mais eficiente” para contribuir para a segurança transatlântica e para cumprir “o papel da Otan”.

A crise abriu um debate na França, mas também em outros países da UE, sobre a necessidade de uma maior soberania europeia em termos de defesa para se libertar do guarda-chuva americano.

Mas as capitais mais atlantistas, como Copenhague, um dos aliados mais próximos dos Estados Unidos na Europa, expressaram publicamente suas reservas.

Nesse sentido, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, afirmou “absolutamente” não entender as críticas feitas a Washington e defendeu o “muito leal” Joe Biden.

Na França, alguns políticos querem ainda colocar na mesa a questão da participação da França na liderança integrada da organização transatlântica.

A França voltou à Otan em 2009 nas mãos de Nicolas Sarkozy, 43 anos depois de deixá-la sob o governo do general Charles de Gaulle.