O presidente francês Emmanuel Macron condenou neste sábado (16) os “crimes imperdoáveis para a República” na repressão policial mortal contra um protesto de argelinos em Paris em 17 de outubro de 1961.

Em uma cerimônia com familiares e ativistas para relembrar o 60º aniversário do massacre, Macron “admitiu os fatos: os crimes cometidos naquela noite sob a autoridade de Maurice Papon (então chefe policial de Paris) são imperdoáveis para a República”, segundo informou um comunicado do palácio presidencial.

Em 17 de outubro de 1961, durante uma manifestação organizada em Paris para protestar contra um toque de recolher imposto aos argelinos, ocorreu uma repressão “brutal, violenta, sangrenta” – nas palavras do Eliseu – contra os participantes.

Macron admitiu que várias dezenas de manifestantes foram assassinados, “seus corpos foram lançados no rio Sena”.

Embora o balaço oficial mencione apenas três mortos, os historiadores temem que dezenas de pessoas perderam a vida.

Macron, o primeiro presidente francês a comparecer a uma cerimônia em memória desse massacre, fez um minuto de silêncio perto da ponte de Bezons, sobre o rio Sena, onde a manifestação começou.

Ao mencionar esses “crimes”, o presidente francês foi mais longe que seu antecessor François Hollande em 2012, que falou de “repressão sangrenta”.

Durante a cerimônia, o presidente francês falou com alguns dos familiares das vítimas, mas, como era esperado, não pronunciou nenhum discurso nem apresentou um pedido de desculpas oficial. O palácio presidencial divulgou um comunicado.

Macron, o primeiro chefe de Estado francês nascido após a era colonial, fez da reconciliação histórica uma prioridade, uma forma de reajustar as relações com as ex-colônias.

No entanto, a seis meses das eleições presidenciais, Macron não quer provocar uma reação negativa por parte de seus adversários políticos.

Neste sábado, políticos de esquerda, como o candidato comunista Fabien Roussel, exigiram que ele admitisse o massacre dos argelinos como um “crime de Estado”. Para Marine Le Pen, de extrema direita, Macron “continua rebaixando nosso país”, enquanto “a Argélia nos insulta todos os dias”.

De acordo com o historiador Emmanuel Blanchard, os comentários de Macron são um “progresso” e foram “muito mais longe” que os termos usados por Hollande há quase uma década.

No entanto, essa cerimônia ocorre em um contexto de tensões entre França e Argélia, especialmente após as declarações atribuídas a Macron, segundo as quais o país é dirigido por um “sistema político-militar” que “reescreveu totalmente” sua história.