A estilista de origem albanesa Nensi Dojaka é a nova estrela do mundo da moda. Formada pela escola britânica Central Saint Martins, ela fundou a própria marca em 2017. De lá para cá, atraiu a atenção de celebridades como as modelos Bella Hadid e Emily Ratajkowski e a atriz Sophie Turner (a Sansa Stark da série Game of Thrones), que usaram suas peças em eventos. Neste ano, um de seus vestidos apareceu ao lado de criações de gigantes como Prada e Bottega Veneta no ranking da Lyst Index que elenca os produtos mais interessantes da temporada. Mas a popularidade da designer de 27 anos acaba de ganhar um impulso notável. Ela foi a vencedora do LVMH Prize 2021, a mais importante premiação para jovens estilistas.

“Sua moda sensual e sob medida rompe com as convenções femininas, combinando confiança e estilo”, afirmou Delphine Arnault, diretora da Louis Vuitton. Ela é filha do CEO da LVMH, Bernard Arnault, e idealizadora do concurso. Por isso fez questão de entregar o prêmio pessoalmente a Nensi Dojaka na terça-feira (7), em Paris. A escolha foi unânime. No júri, além de executivos do conglomerado, havia diretores de marcas como Off-White, Dior, Marc Jacobs e Stella McCartney.

Compostos de traços minimalistas e muitas transparências, os vestidos criados pela albanesa transitam entre o design de moda feminino e a lingerie. “A estilista conseguiu propor um material moderno e atemporal, pensando na longevidade das peças”, disse Anay Zaffalon, professora do Master de Fashion Digital Business da ESPM. Segundo ela, existe uma demanda reprimida por roupas sexy e atemporais. “Além disso, são facilmente identificáveis e essa é uma característica essencial para o mundo digital: o produto já deve nascer instagramável.”

ATEMPORAL A albanesa Nensi Dojaka conquistou o júri do prêmio com seu design de traços minimalistas. À esquerda, modelos vestem criações que chegaram à final do LVMH Prize 2021. (Crédito:Divulgação)

Além do prestígio, Nensi voltou para casa com um cheque de 300 mil euros e um ano de mentoria com profissionais do conglomerado de luxo. “O acesso a esses estilistas seria muito difícil se não fosse pelo prêmio”, afirmou Anay. Segundo ela, o evento e o aprendizado que vem com ele têm capacidade de elevar uma grife. Um exemplo é o francês Simon Porte Jacquemus. Premiado em 2015, ele é responsável por uma das marcas de maior relevância no mercado. Após vencer o LVMH Prize, Jacquemus expandiu sua produção para sapatos, bolsas e chapéus.

A jovem estilista albanesa deve seguir um caminho parecido. Em entrevista ao The New York Times, ela afirmou que os recursos serão usados para contratar um time de profissionais com o objetivo de escalar a produção. E que a mentoria vai ajudá-la a desenvolver seus produtos de forma ainda mais criativa e com potencial comercial. Atualmente, suas peças já são vendidas nas redes varejistas Matchesfashion e Mytheresa. Seu primeiro desfile próprio está marcado para o sábado (17), na Semana de Moda de Londres.

Nensi Dojaka venceu, mas não foi a única a sair da cerimônia com um prêmio nas mãos, um cheque no bolso e acesso a profissionais do primeiro escalão da moda. Embora tenha obtido o maior reconhecimento, outros três finalistas se destacaram: o americano Colm Dillane, da marca KidSuper, o sul-africano Lukhanyo Mdingi e a chinesa Rui Zhou, que assina as coleções da Rui. Eles levaram o Karl Lagerfeld Prize, troféu em homenagem ao designer alemão que morreu em 2019 e havia feito parte do júri desde sua criação, em 2014. Cada finalista recebeu 150 mil euros e um ano de mentoria no conglomerado de luxo. “Essas escolhas mostraram o quanto diversidade é um tópico relevante e o quão importante é ter visões e estéticas diferentes”, disse Anay Zaffalon, da ESPM.

Rui Zhou é a primeira chinesa a conquistar uma premiação da LVMH. Suas criações cheias de fendas, desenhadas para valorizar o corpo das modelos, já conquistaram celebridades como as cantoras Dua Lipa e Solange Knowles. Sua escolha também mostra o crescente protagonismo da China no mercado de moda, não apenas como ávidos compradores de artigos de luxo, mas também como criadores.

O sul-africano Lukhanyo Mdingi lançou a própria linha de roupas em 2015 e vem colocando a Cidade do Cabo no mapa da moda ao usar técnicas de malharia para mesclar o fazer artesanal com designs modernos. Já apresentou suas peças na tradicional feira Pitti Uomo, que acontece semestralmente em Florença, na Itália.

Já Colm Dillane, natural da cidade de Nova York, vem construindo sua fama como KidSuper ao explorar cores vivas, desenhos quase infantis e um design inspirado em streetwear. Já mostrou seu trabalho na Semana de Moda de Paris, lançou uma coleção em parceria com a Puma e tem os rappers Young Thug e J Balvin entre seus maiores admiradores. É fanático por futebol, jogou profissionalmente por um tempo e já se declarou torcedor do Palmeiras.

SÓ PARA MENORES DE 40 ANOS A edição de 2021 do LVMH Prize marcou um retorno aos eventos presenciais após a suspensão provocada pela pandemia. No ano passado, os jurados decidiram dividir igualmente o prêmio entre os oito finalistas. Qualquer designer com menos de 40 anos que tenha criado ao menos duas coleções completas pode se candidatar. E, neste ano, muitos tentaram a sorte. Foram quase 2 mil inscritos, provenientes de 110 países. Apenas nove foram selecionados. Além dos quatro vencedores, a lista inclui a britânica Bianca Saunders, o francês Charles de Vilmorin, os americanos Conner Ives e Christopher John Rogers e a colombiana Kika Vargas.

UM CHEVAL BLANC NO CORAÇÃO DO IMPÉRIO DA MODA

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É surpreendente que a LVMH, o maior conglomerado de luxo do mundo, ainda não tivesse um hotel cinco estrelas em Paris, onde fica a sede administrativa do grupo. Mas a situação acaba de mudar. O histórico prédio de La Samaritaine, conhecido pelo visual art déco e por abrigar uma importante loja de departamentos no século 19, acaba de ser reinaugurado sob a bandeira Cheval Blanc, rede de hotelaria de alto padrão que já tem outras quatro unidades espalhadas pela França, da litorânea St. Tropez a Courchevel, nos Alpes.

O prédio foi comprado pela LVMH em 2001 e fechado ao público em 2005. Para reabri-lo foram necessários 16 anos de restauração, um investimento de 500 milhões de euros e o trabalho de 3 mil pessoas.

A transformação manteve o conceito artístico original, mas acrescentou muitos detalhes luxuosos. São 72 quartos, com design de interiores assinado por Peter Marino, que trabalhou em lojas da Chanel e Dior. Nas paredes, obras de artistas como o brasileiro Vik Muniz. O menu dos restaurantes é assinado por Arnaud Donckele, chef com três estrelas Michelin. E tanto hóspedes quanto turistas poderão passear pelos andares dedicados às lojas. São mais de 600 marcas, a maioria delas de luxo, incluindo as grifes do grupo, como Louis Vuitton, e ao menos 400 itens que serão vendidos apenas no local.