Um sonho que não deu certo. Essa frase sintetiza os clubes de investimento que permitiram a participação no processo de privatização dos empregados da antiga Rede Ferroviária Federal (RFFSA), cujos restos mortais agonizam no corredor da morte do Ministério do Planejamento à espera da liquidação. Dos três clubes consultados por DINHEIRO, um está quebrado, outro está à beira da falência e o terceiro vendeu ações para pagar o financiamento que recebeu para comprar essas mesmas ações. E o que é mais grave: ninguém assume a responsabilidade pela fiscalização dessas instituições, que receberam da União o direito de pagar 70% a menos pelas ações das malhas ferroviárias. ?Filho feio não tem pai?, diz João Paulo Amaral Braga, presidente da Sudfer, o clube de investimento dos funcionários da MRS, consórcio que arrematou a antiga malha Sudeste.

A situação dos clubes é tão delicada que até a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu investigação sobre denúncias de Braga contra a MRS, acusada de desrespeitar os acionistas minoritários, entre eles os próprios empregados. Em cartas endereçadas ao governo federal, ao BNDES e à CVM, Braga aponta irregularidades. ?Não constatamos nada de errado à luz da legislação?, diz Luiz Henrique Teixeira Baldez, secretário de Transportes Terrestres do Ministério dos Transportes. Já a investigação da CVM ainda não foi concluída. O Sudfer está quebrado. O clube deve R$ 1 milhão ao Banco Bandeirantes, do qual pegou um financiamento para comprar cerca de 2% das ações MRS.
Luiz Antônio Sola é o presidente da Transfesa, o clube de investimento dos empregados da Ferropasa, empresa que arrematou as antigas malhas Oeste e da Ferronorte. Ele também admite não ter dinheiro para pagar o que deve aos bancos. ?Os novos controladores não negociam nada?, diz. Joaquim Augusto Nahas, diretor-presidente da Transger, que em vez de clube de investimento optou por ser uma empresa de participações, comprou ações das antigas malhas Sul, Oeste, Sudeste, Centro Leste e Nordeste. ?Tivemos que vender parte da ações para pagar os bancos?, conta.

Baldez reconhece que os clubes de investimento deram um passo maior do que as pernas ao tomarem financiamentos para comprar ações das malhas ferroviárias. ?O modelo não obrigava os funcionários a comprar as ações. Na verdade foi oferecida uma opção de compra?, diz. O secretário afirma que não cabe ao governo federal fiscalizar os clubes, que são instituições de direito privado. O BNDES, gestor do Programa de Privatização e que fomentou a criação dos clubes, também diz que não tem nada a ver com isso. Resta saber quem vai assumir a culpa por uma idéia que permitiu aos funcionários da antiga RFFSA comprar ações da ex-estatal com deságio de 70%, um privilégio que a União não concedeu a nenhum outro brasileiro. Será que ainda existe luz no fim do túnel?